quarta-feira, dezembro 19, 2007


Para: Olívia, a bailrina.

Rua do tempo imóvel de piratas e marujos.


De: Tomás, o guardador de rebanhos.

Rua das memórias irrequietas, montadas em cavalos de palha.



O que o "Monte da Forca" nos contou, jamais narrei a ninguém. Ficou guardado em mim como o momento em que tu e eu superámos a densidade do universo: meu deus, fomos tudo!
Recordo ainda com fulgor nostálgico o dia depois, em que ludribriavamos o sermão austero que tanto os meus como os teus pais nos haviam pregado...de resto, tudo mais se empalideceu.
Eras como os dentes de leão daquela serra, a brisa suava-te como um marcha pelo mundo inteiro. Lembro-me de tantas vezes olhar nos teus olhos e neles ver espelhada a distância de terras alheias. De cada vez que te via, tinha o cuidado de fixar todo o teu gesto e ser, todas as vezes eram como se fossem a última.
Hoje se te visse pedir-te-ia para montarmos o nosso cavalo mágico, feito de palha, e calvagarmos por todas essas terras que tu criaste e eu vi nos teus olhos.

Assinado: Tomás, o guardador de rebanhos.

domingo, dezembro 16, 2007




"QUEM QUISER ME CONHECER QUE ME LEIA,

MAS QUE ME ENTENDA!"



CITADO POR: MIGUEL TORGA.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

THE END

FORAM 120 "POSTS", FORAM TANTOS, MAS POUCOS QUE NÃO FOSSEM PARA ESSE MEU OUTRO ALGUÉM QUE JAMAIS SE MANIFESTOU. MEU DEUS, AO MENOS QUE APRENDESSE A SER DIFERENTE E CONSTANTE, SERENA, PERFEITA!
FALEI SOZINHA E PARA PARTE INCERTA, SEMPRE SÓ. FORAM DEVANEIOS, AFINAL DE CONTAS, SOMENTE DEVANEIOS, ABSURDOS!
A CADA DIA QUE PASSAVA, ESTE ESPAÇO GERMINAVA COM UM NOVO INTUITO, NEM QUE FOSSE A MOTIVAÇÃO DE ESCREVER PARA QUE NO SILÊNCIO ESCUTASSE MEU SER.
AGORA PASSADAS TANTAS LETRAS, UMAS SENTIDAS, OUTRAS DISFARÇADAS, OUTRAS INVENTADAS, ESQUECEU-SE-ME A VONTADE DE ACORDAR O DESEJO DE PERPETUAR A CHAMA ACESA DE ENCONTRAR "AQUILO" EM MIM!
"AQUILO"? NÃO IMPORTA. SOU, CRONICAMENTE, DESAJEITADA, TRISTE E SÓ. E PARA QUÊ PERMANECER NA ÂNSIA? SOMOS TODOS TRANSPARENTES.
VOU GUARDAR TODOS ESTES TEXTOS E QUANDO ACABAR DETERMINAREI O FIM, OU TALVEZ NÃO... MAS, HOJE DIREI QUE SIM!

terça-feira, novembro 13, 2007

Lágrimas de Vidro


Escorrem-me lágrimas de vidro pela alma. Quando batem o solo quebram-se em estilhaços sinuosos e agudos; Cada muito caído é um fragmento aquoso de mim, como uma aguarela amassada às mãos do artista descontente. Um dia vou pairar sobre a lua e chover àgua de vidro, nesse dia todos saberão de mim e molhados, perguntaram: "De onde vem esta água gelada que me arranha o coração?"

quinta-feira, novembro 08, 2007

ATÉ AO DIA DA MINHA MORTE

Escuto os violinos que cantam e naquelas cordas soa uma voz que me embala. As notas juro-as ver correr como se fugissem apressadas, já nem as vejo. E ainda assim, não preciso que sejam minhas para as sentir brotar-me por entre cada pedaço meu. Tomo-as como minhas e elas como se eu delas fosse.
Não sei sentir senão tudo, numa sinestesia exaltada, porque cada compasso é o mundo inteiro...
Dou por mim ansiando cada momento como derradeiro, tenho sede de viver!
Fico por aqui por toda a eternidade até ao dia anónimo da minha morte!



( Música"Grosse Fuge" De Beethoven)



HOJE DECIDI QUE O PENSAMENTO SERÁ AZUL. AZUL COMO O LÁPIS LAZULI!

sábado, novembro 03, 2007

"Copying.Beethoven": Beethoven Symphony 9 (Movt.4)

Fecha os olhos e sente...

quarta-feira, outubro 31, 2007

SÓ.


Sinto que tenho de escolher cada vogal e consoante para a tua história, como se cada uma fosse moldada não mais do que em prata ou ouro. As tuas palavras sempre bordas e tornadas peças únicas; escolhendo-as , cantavas a tua alma e as palavras mais que faladas, saiam-te em notas harmoniosas, ou, como se diz: com conta, peso e medida.
O teu "volto já" falacioso faz-me, no entanto, recordar-te por todos os dias e os quadros que pintas-te põe-me falando contigo, sem que me oiças, sem que eu me oiça, sem que existas...Com o tempo, fui-te fabricando a meu gosto, tanto que já nem sei se és o mesmo. Por vezes, distraído, revelo, a quem me pergunta, que passei a tarde à conversa com um amigo; a gente do prédio olha-me de soslaio, dão a tal palmadinha de compaixão e murmuram em silêncio: "Coitado, já é velho, o que é que se pode fazer?!". Espanta-me tanta ingenuidade pacóvia! Somente me atrevi a atentar contra a implacável solidão. A loucura é o beijo dos sonhos, antes ela...
Cedi as tuas "bailarinas" a uma galeria de arte. Sei que se aqui estivesses jamais o tolerarias, queria-las todas na tua existência pacata e, ainda que nunca tenhamos conversado acerca de tal, também sei que as tinhas tão mais do que meras figuras, geradas por pinceladas, animadas por tintas sobrepostas e interpretadas à luz das funções cognitivas humanas. Saiam-te dos dedos e germinavam na tela, eram-te como deusas veneradas, a que por amor, fazias-te fiel escravo. Bailavam por todo o teu corpo, eram-te o fluído animado que te bombeava o coração. Eu sei...por isso, escutava-te em silêncio, quando me dizias: "Não as criei, criaram-me. Criar-me-ão até ao dia da minha morte!".
E assim foi, sem que tu te podesses apreceber, saltou-te uma do papel e, pintando-se de cores humanas, fez-te crer na vida eterna: quebrou-te o ócio, determinou um tal bailado com passos de amor - os membros entrecruzam-se em paixão, um corpo, dois corpos, um só; a respiração que salta e se transfigura numa melodia ritmada de suspiros céleres, a que se rende o coração, os olhos que se fitam e falam palavras secretas - a que o teu geito lasso se amedrontou. De facto, fez-te bailar...
Vi-te partir, todos os dias, para o conservatório (consegui com que te deixassem assistir às aulas), quando regressavas tinha de te ajudar a trazer todos os oito ou dez retratos que lhe haverias feito em duas horas. De seguida, trancavas-te no quarto porque, como me acabaras por explicar: "é impossível conseguir, sequer, captar um traço suave do seu gesto, tudo é tão perfeitamente harmonioso, que os meus pincéis se definham só por tentar". Ela era muito bonita e tu, meu filho, muito ingénuo!
Os traços inacabados, desordenados e grosseiros que acreditavas ser, faziam-te imaginar que o entendimento claro de ti, seria concretizado na pintura alheia. Nunca te deste ao trabalho de compreender que seria, apenas, necessário recuares alguns metros para veres que, afinal, o teu quadro abstracto era meramente uma paisagem impressionista. Ter-te-ias apreciado tanto como eu o fiz!
Um dia, a bailarina fustigou-te e antes que o teu corpo apaixonado se desse conta de que dançava sozinho, já ela se tinha desvanecido.
Estavas com muita febre, nesse dia. Quando me apróximei, miravas-lhe o rosto, pendurado do lado oposto. Pareceu-me que repetias palavras sem nexo (tu, que nunca foste de as desperdiçar!), contudo, ao fim de alguns instantes compreendi o discurso:
"Estupidamente creio sempre no teu nome como um vácuo sonoro. Ingenuamente, julgo lembrar-te, somente, em versos dum pretérito-mais-que-perfeito. A tua figura é uma memória tão já lembrada que nem em mim se torna real. E, sendo tudo tão serenamente doloroso quanto poderia desejar, nada poderia ser tão penoso: é ver-te diante de mim, real, soberba e distante; é ser-te como o vento - cru, só e comum.". Falando-te desesperadamente, não suportando o teu sofrimento ( e tu nem me escutavas), pregeui-te um estalo, capaz de gravar a minha mão na tua face. Vi-te escorrer uma lágrima, quis apróximar-me, empurraste-me e foste-te embora, num tal "volto já". Ainda corri as escadas, mas em vão, aos poucos superaste-me a vista: perdi-te o rasto. Perdi-o para sempre...
Quando te recuperei, já vinhas pálido e sem vida, abraçado ao corpo inanimado da bailarina.



sábado, outubro 06, 2007


De manhã, de embalo, deambulava pela rua com as horas. Horas que o acompanhavam e o preenchiam aos olhos de quem se tornava conhecido: às sete era um "bom dia, Sr. Joaquim!", a meio da manhã um "Que bom vê-lo, Sr. Joaquim.", à tarde um "Adeus, Sr. Joaquim", à noite um silencioso boa noite de destinatário e remetente análogos. Os lugares tornavam-o distinto e sempre inacabado: na padaria era o "Sr. Joaquim", no café da esquina o "Joaquim, camarada!", no trabalho "Dr. Joaquim"; sem tempo para escolher entre Senhor, Camarada ou Doutor, era à penumbra de todos aqueles que o moldavam que Joaquim se sentia como um esboço cinzento e esborratado... Os traços já gastos de tanto serem apagados, a folha tão amachucada, tão fina e riscada; dali jamais sairia uma obra-prima! E Joaquim olhava para os olhos da gente que passava só para que, enfim, pudesse enxergar, por completo, as obras de quem invejava ser "acabado". Mas, entre "Joaquins de Almeida" , entre "Doutores" e "Senhores" só havia um mundo de mudança e as horas silênciosas que desciam consigo, a rua tão já caminhada, eram o único traço definitivo que pudera encontrar!

quarta-feira, outubro 03, 2007

Diários

"If I lay here If

I just lay here

Would you lay with me and just forget the world?"






22 DE AGOSTO DE 2001



Não basta amares-me na maioria dos dias, era preciso amares-me permanentemente, até nos instantes em que me gritares de ódio (odiares-me, amando-me, seria tão bom consolo; odiando-me, amando-me, serias meu cativo)!
Sei quantos sabores escondem os teus lábios, provo-os audazmente. Não gosto de prová-los ao dizeres-me que"gostas" de mim, nem sequer quando dizes "gosto muito"... Que sabor amargo e aflito!
Gostares de mim não chega, se não for eu de quem gostes mais! Não quero ser especial, se não for única!



Olívia.



"All that I am
All that I ever was
Is here in your perfect eyes, they're all I can see"





22 DE AGOSTO DE 2001



A primeira página é sempre um quebra-cabeças colossal; o ínicio deve ser cuidadosamente estudado porque até o mais ínfimo dos deslizes pode comprometer todo o objectivo, objectivo esse que será de te poder falar e de me fazer falar...
Não percebeste porque foi que te roubei o caderninho que tinhas junto da tua mesa de cabeceira, eu sabia, sim, que não tinhas nada lá escrito( não me julgues tão curioso), a causa foi tão mais nobre do que possas imaginar!... Precisei roubar um pouco de ti, para que, enfim, te podesse alcançar. A nossa presença tornou-se um estreito sem passagem: e se te toco não sentes, e se te falo não me escutas, e se te abraço não te sinto, e se te beijo foges, e se me beijas...
Gostava do tempo em que me olhavas como um arco-íris, sabias-me cada cor, da esquerda para a direita, da direita para a esquerda...Agora o que tens para olhar? Azul? Lilás? nem vermelho... sou um nevoeiro extenso que te sufoca. Eu sei!
Não te posso amar todos os dias, nem tu a mim. Há dias em que o cansaço me arrasta até um ponto de exaustão e tudo me parece alheio; nesses dias, vagueio, como que sem rumo, e não é a ti por quem chamo...Desculpa, mas há dias, em que simplesmente tenho de me procurar a mim, somente! Das vezes que estou intacto, ainda que na maioria delas goste de ti, creio que me farto de te manter firme e sóbria. Se soubesses como é difícil ter a tua atenção... Foges-me insesantemente, por entre as nesgas dos dedos, que descobres ( vai se lá saber como!), nas minhas mãos cerradas. Quase que chego a esmagá-las para poder comprimir todo o espaço que a matéria da minha carne não preenche!

Esse teu ar taciturno e insatisfeito cansa-me...não posso continuar a respirar por ti!

E, embora assim o seja, recuso-me a desistir porque no fundo sei que gosto demais de ti, Olívia.

E sei também que, muitas das vezes em que te encontro absorta face ao infinito, é porque te destraiste e esqueceste-te que me amavas, sei que te apaixonas muitas vezes, e que muitos dos teus sorrisos não são para mim, não podem ser sempre não é?
Então, de todas essas vezes, gesticulo e faço piroetas, só para que voltes a olhar para mim, e tu, sua distraída, voltas!
Agora, vamos supor, que estarei desmanchado, partido em cacos, com que força remarei contra corrente?!
Preciso que voltes, que voltes inteira e sem o infinito de que és cercada; preciso que voltes, mas entende que não te posso amar a todo e qualquer instante, que tenho a mão dorida de tanto a apertar; preciso que me beijes e tenhas consciêcia disso; preciso que me reúnas todos esses bocados de mim "pontiagudos" e que coles, devagarinho...Está bem?



Tomás.





"I don't quite know
How to say
How I feel "




23 DE AGOSTO DE 2001



Gostava de perceber tanta coisa nesta relação... Afinal de contas porque é que estás, constantemente, a chamar-me distraída?

Tenho ciúmes de todos aqueles que te tocam!



Olívia.



"We don't need
Anything
Or anyone"






23 DE AGOSTO DE 2001



Sei que, agora mesmo, não é em mim que pensas, de facto nem te deste conta de que continuo no chão, desfeito.
Tens sempre um comportamente tão exemplar e os teus vestidos nem esvoaçam com o vento, é sempre tudo tão impacável! E , afinal de contas, como é possível não entenderes que para entrar nesse teu quarto obscuro só eu? Pára de procuara seja quem for, já encontraste! Idiota!
Vou me fartar de esperar e vou aceitar ajuda de quem vier, garanto-te! Não ias gostar não é?

Porra, amo-te!



Tomás.


"If I lay here
If I just lay here
Would you lay with me and just forget the world?"

sábado, setembro 29, 2007

I
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

II

Dia a dia mudamos para quem
Amanhã não veremos. Hora a hora
Nosso diverso e sucessivo alguém
Desce uma vasta escadaria agora.

E uma multidão que desce, sem
Que um saiba de outros. Vejo-os meus e fora.
Ah, que horrorosa semelhança têm!
São um múltiplo mesmo que se ignora.

Olho-os. Nenhum sou eu, a todos sendo.
E a multidão engrossa, alheia a ver-me, Sem que eu perceba de onde vai crescendo.

Sinto-os a todos dentro em mim mover-me,
E, inúmero, prolixo, vou descendo
Até passar por todos e perder-me.

III

Meu Deus! Meu Deus! Quem sou, que desconheço
O que sinto que sou? Quem quero ser
Mora, distante, onde meu ser esqueço,
Parte, remoto, para me não ter.

FERNANDO PESSOA

"AS GRUTAS" DE SPHIA DE MELLO BREYNER ANDERSEN



O esplendor poisava solene sobre o mar. E- entre as duas pedras erguidas numa relação tão justa que é talvez ali o lugar da Balança onde o equilíbrio do homem com as coisas é medido- quase que me cega a perfeição como o sol olhando de frente. Mas logo as águas verdes em sua transparência me diluem eu mergulho tocando o silêncio azul e rápido dos peixes. Porém a beleza não é solene mas também inumerável. De forma em forma vejo o mundo nascer e ser criado. Um grande rascasso vermelho passa em frente de mim que nunca o antes imaginaria. Limpa, a luz recorta promontórios e rochedos. é tudo igual a um sonho extremamente lúcido e acordado. Sem dúvida um novo mundo nos pede novas palavras, porém é tão grande o silêncio e tão clara a transparência que eu muda encosto a minha cara na superfície das águas lisas como um chão.
As imagens atravessam os meus olhos e caminham para além de mim. Talvez eu vá ficando igual à almadilha da qual os pescadores dizem ser apenas água.
Estarão as coisas deslumbradas de ser elas? Quem me trouxe finalmente a este lugar? Ressoa a vaga no interior da gruta rouca e a maré retirando deixou redondo e doirado o quarto de areia e pedra. No centro da manhã, no centro do círculo do ar e do mar, no alto do penedo, no alto da coluna está poisada a rola branca do mar.
Desertas surgem as pequenas praias.
Eis o mar e a luz vistos por dentro. Terror de penetração na habitação secreta da beleza, terror de ver o que nem em sonhos eu ousava ver, terror de olhar de frente as imagens mais interiores a mim do que o meu próprio pensamento. Deslizam os meus ombros cercados de água e plantas roxas. Atravesso gargantas de pedra e arquitectura do labirinto paira roída sobre o vento. Colunas de sobra e luz suportam céu e terra. As anémonas rodeiam a grande sala de água onde os meus dedos tocam a areia rosada do fundo. E abro bem os olhos no silêncio líquido e verde onde rápidos, rápidos fogem de mim os peixes. Arcos e rosáceas suportam e desenham a claridade dos espaços matutinos. Os palácios do rei do mar escorrem luz e água. Esta manhã é igual ao princípio do mundo e aqui eu venho ver o que jamais se viu.
O meu olhar tornou-se liso como um vidro. Sirvo para que as coisas se vejam.
E eis que entro na gruta mais interior e cavada. Sombrias e azuis são águas e paredes. Eu quereria poisar como uma rosa sobre o mar o meu amor neste silêncio. Quereria que o contivesse para sempre o círculo de espanto e de medusas. Aqui um líquido sol fosforescente e verde irrompe dos abismos e surge em suas portas.
Mas já no mar exterior a luz rodeia a Balança. A linha das águas é lisa e limpa como um vidro. O azul recorta os promontórios aureolados da glória matinal. Tudo está vestido de solenidade e de nudez. Ali eu quereria chorar de gratidão com a cara encostada contra as pedras.

Sentimentos (não) Inteligíveis


Passou mais de tantas mãos cheias de anos desde o teu desaparecimento, propositado (devo acrescentar)... é incrível como fui capaz de me absorver naquele breve momento do teu eclipse, que me esqueci de acenar ao tempo que passava.
Se me pudesses ver agora: desfiz as tranças e cortei o cabelo, mudei de trajes, cresci uns quantos centímetros; trabalho no hospital da zona como enfermeira, tenho dois filhos pequenos. Fui me transfigurando nestes instantes, que agora adultos, já são 20 anos!
Deixei-me sozinha na lua. Para crescer disse adeus, para crescer fugiste...todas as noites baloiço-me ao vento e finco os olhos lá onde as estrelas são sombras de imaginação, aceno a quem lá deixei e ela responde-me com um sorriso, a tua "gaiata"...! Os sons ondulantes do que dissemos, as frases desfraguementadas de uma recordação já intelectualizada e não pura. Tu dizias: "Tão depressa não! Ainda te magoas!", mas eu era obstinada e fazia-te correr, o mais que conseguias e podias, seguias-me cegamente, porque temias por mim e eu aproveitando-me disso, levava-te a todos os meus recantos.
Quando eramos pequenos, parávamos sempre junto ao poço, com os teus 3 anos de avanço, ganhavas-me em altura, pegavas-me ao colo (tinhas medo que caísse) e com os seixos com que enchias os bolsos das calças, lançavamo-los de uma vez só, diziamos que era a chuva a cair... Escotando os sons do mundo submerso, tão nossos como alheios, eramos felizes!

domingo, setembro 09, 2007

La valse d'Amélie


A tez de ébano que te sorri e se aproxima lentamente..sentes a melodia tocando "fortíssimo" no teu coração, porque o tempo é apenas "pianíssimo", absorto naquela miragem de Deuses, naquele esplendor roubado à lua. E um beijo que vem, quase inesperado, com as estrelas em testemunha. Um beijo na candura de uma bonina em flor...Ela que sorri, encostando-se em teu peito e sentes a imponência frente à vida! Ali, agora és a terra que alimenta as magnólias com que a confundes, és a brisa que brinca nos seus cabelos negros, és a fragância que a embebe...A serenidade que te faz amar, amar tanto!E, de repente, um sussuro tímido, que te diz: "Também te amo!".
Eu sei...



SE ESTE FOSSE O TEU ÚLTIMO DIA NA TERRA, COMO GOSTARIAS DE O "GASTAR"?

sábado, setembro 08, 2007

Quem se vê. Quem não se vê.




A diferença está em que uns se enxergam demais e outros simplestemente não o fazem!


Há quem apenas contemple o ego e quem aprecie a globalidade do EU e do OBJECTO.
O acto de "conhcer", o sujeito cognoscente e o objecto cognoscível, aquele que invade o outro, o que conhece e o que deixa conhecer, a imagem consciênte que se cria um no outro, são apenas passos que,ordinariamente, não são cumpridos. Porque o comum é sucumbirmos ao víros que desfraguementa, danifica e, por fim, elimina uma ou todas as etapas. Somos estranhos! estranhos jobilosos, estranhos melancólicos...gente que deambula com suposto rumo (sem rumo, meus caros!), para onde nos possam olhar de frente, queremos achar no olhar de quem nos vê (de quem julgamos ser capaz de nos ver, assim é melhor...) a forma pictórica que oferecemos ao mundo como ID. São pontes que lançamos! Pequenos gestos, por vezes incompreendidos, que nos tornam mais fortes e menos hesitantes. De repente, somos Davi que enfrenta o colossal Golias! A vida que seja, enfrentamo-la de peito e semblante erguido.
Milagres!(pois sim, na nossa candura.). Mas, também não são braços que APENAS se unem; em vez disso, IMPORTANTES corações que batem em uníssono e vozes que se entendem e se reconhecem no chinfrim de tantas vibrações (são timbres e alturas, intensidades, todas elas diferentes), rostos que se identificam na consciência eterna da memória e na precariedade do real. Aqui e ali: um só!
E, contudo, há ainda quem não se reconheça no olhar de ninguém; alamas solitárias que vagueiam como fantasmas, em jardins coloridos por quem se vê. E não se fazem ouvir, nem com o grito mais sonoro; e não se fazem entender, nem com a retórica mais delicada; e não se fazem gostar, nem com o mais terno dos abraços. DESVANECEM-SE, pura e simplesmente! Vão amolgadas e esburacadas por quem as pisa e não as vê...

O Sésamo


Era uma vez uma criança,
Um rapaz, na idade da esperança,
Brindado com o dom de sonhar,
Fazio-o sem parar.


Ouvira contar uma história prodigiosa,
Na qual queria participar...
Partira então para o infame Monte da Forca.
Chamejando o seu coração,
Aliciando a imaginação.


De lá gritara três vezes,
Três vezes gritara:
-Abre-te, Monte da Forca!


O Monte permanecera ocioso, na inércia da Natureza,
Arreado pelo chão,
Estropiado pela imaginação,
Por lá continuara cerrado.


O pequeno chorara, com o tormento da desilusão...
O anátema do seu sonho,
A realidade asquerosa,
Rebelara a maldita imaginação.


Ao longe o balido de uma ovelha,
Um novo ser brindava o mundo,
Era tempo de encoirar as mágoas,
Lograr o prodígio da vida.


Este poema foi escrito por mim, três anos antes, quando tive a ocasião de ler o conto do Miguel Torga: "O Sésamo".
Agora aprendi que, entre centenas de outras coisas, não sei escrever poemas...nem me atrevo. Sou comumente desajeitada e devia-me deixar de escrever de todo!

domingo, setembro 02, 2007

Pequininas partes da nossa realidade!

Oiço-te. Seguro-te a mão. Abraço-te. Digo que gosto de ti.
Oiço-te. Seguro-te a mão. Abraço-te. Digo que gosto de ti.
Oiço-te. Seguro-te a mão. Abraço-te. Digo que gosto de ti.

Tu gritas por ajuda. Deixas que te segure a mão. És abraçada. Ouves dizer-me que gosto de ti.
Tu gritas por ajuda. Deixas que te segure a mão. És abraçada. Ouves dizer-me que gosto de ti.
Tu gritas por ajuda. Deixas que te segure a mão. És abraçada. Ouves dizer-me que gosto de ti.

TU GRITAS POR AJUDA! NÃO DEIXAS QUE TE SEGURE A MÃO! NÃO QUERES SER ABRAÇADA! NÃO ACREDITAS QUE GOSTEM DE TI!

TU GRITAS POR AJUDA (PONTO).

segunda-feira, agosto 27, 2007

HOJE, MAS SÓ HOJE, GOSTAVA QUE ALGUEM ME LIGASSE...

ESTOU
A
PRECISAR
DE
UM
VALENTE
RASPANETE
!

domingo, agosto 26, 2007

Caixinha de música



Quem me dera...Quem me dera ter uma caixinha de música para de noite escutar! Aquela melodia afaga como um abaraço e faz-me querer sorrir.

Queria uma caixinha de música, sim, queria....

Delírios de um dia Febril


Os meus acessos de febre têm um jeito dramático, gostam de se pavonear como se dum desfile de moda se tratasse; são escarlates, tão escarlates…ai!
Fazem me flutuar por entre nuvens de recordações, baralham-nas como cartas e servem os naipes conforme lhes dá gosto. Gostam das Copas e das Espadas.
“Sou um trapezista que percorre, sentado numa bicicleta, uma fina corda, tentando alcançar o outro lado: o lado das histórias.”; mas, eu estou deitado numa cama, mergulhado no cheiro nauseabundo da enfermidade…Quero não adormecer! Quero não me entregar aos fantasmas e sereias , eles levar-me-iam para tão longe, para um tempo já inexistente, extinto e abandonado… Não se vive no passado!
E, então, tu que chegas de lugar nenhum, poisas a tua mão fresca na minha testa quente e falas-me de praias além atlântico…falas, sabes que te oiço, bem perto? Estás aqui! Estás divertida nos meus cabelos e eu pergunto-te pelas tuas bolas de sabão…todavia, como me fazes ver, bolas de sabão só no pôr do sol, debaixo do beiral…de que casa? Oh, o que importa se me dás a mão e para lá me levas. Corremos os dois pela brisa e nas tuas bochechas coradas vejo as papoilas da nossa infância. E as “ladainhas” que se cantavam outrora ressoam-me ao ouvido, levando-me, de novo, para tão longe, onde tu não existes, onde eu aprendi a não ter tempo – ah, jogou-se, por fim, o às de espadas!
Por entre os meus dedos quebrados, nascem garras de leão e, contudo, pouco sinto o coração e cabeça leve de vazio põe-me a dormir…São acessos de febre, laivos de mim que escorrem por um fio.

segunda-feira, agosto 20, 2007

A casa

Há uma casa que chora. Aos poucos vai-me engolir e serei, então, como as pessoas que a habitam...
Os gritos ecoam em mim, desenleio mãos e braços zangados, sou testemunha de palavras que não deveriam ser ditas, tremo por dentro e por fora. Naquela casa, vou endoidecer!

sábado, agosto 18, 2007

O TEU GOLPE DE MISERICÓRDIA


Vagueamos, hipnotizados num canto agudo. Estonteados e embebidos na bebida púrpura da saudade. Já ninguém nos ouve, nem nos vê, nem tu me ouves e nem me vês...

Na penumbra sombria que te envolve, como uma cortina de ferro a que chamaram um dia nevoeiro, já não sei senão imaginar-te! Não me lembro desse dia em que partiste...Foi o teu golpe de misericóridia: não dizer adeus, quando fugias para sempre.


(DIZEM QUE VERDE É A CÔR DA ESPERANÇA.)



terça-feira, agosto 14, 2007

Rua Sesamo - O Super Gualter

Ao pedido da Élia e do Miguel: aqui têm, meus amigos..
Notem o tom de descontentamento que a rapariga expressa quando vê o Super-Gualter. Aqui para nós, nem sei porquê, o Super-Gualter salvou a situação mais uma vez! E da próxima vez que estiverem em apuros, especialmente se o vosso computador decidir "pifar", já sabem: Uga, Uga, Uga...
P.S- Tem de ser aos saltinhos! :P

segunda-feira, agosto 13, 2007

E, de repente, apercebi-me:

ESTRAGO TUDO!

domingo, agosto 12, 2007

O nosso livro (Florbela Espanca)



Livro do nosso amor, do teu amor,
Livro do nosso amor, do nosso peito...
Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,
Como se fossem pétalas de flor.


Olha que eu outro já não sei compor
Mais santanamente triste, mais perfeito...
Não esfolhes os lírios com que é feito
Que outros não tenho no meu jardim de dor!


Livro de mais ninguém! Só meu! Só teu!
Num sorriso tu dizes e digo eu:
Versos só nossos mas que lindos sois!


Ah, meu Amor! Mas quanta, quanta gente
Dirá, fechando o livro docemente:
"Versos só nossos, só de nós os dois!..."


Frieza (Florbela Espanca)



Os teus olhos são frios como as espadas,
E claros como os trágicos punhais,
Têm brilhos cortantes de metais
E fulgores de lâminas geladas.





Vejo neles imagens retratadas
De abandonos cruéis e desliais,
Fantásticos desejos irreais,
E todo o oiro e o sol das madrugadas!





Mas não te invejo essa indifrença,
Que viver neste mundo sem amar
É pior que ser cego de nascença!





Tu invejas a dor que vive em mim!
E quantas vezes dirás a soluçar:
"Ah, quem me dera, Irmã, amar assim!..."

O Carteiro Gualter

Eu tenho de parar de pôr videos da Rua Sésamo...perdoem-me a nostalgia.
Mas, digam lá: não era bom serem atendidos pelo carteiro Gualter?

sábado, agosto 11, 2007

Mahnamahna

Mahnamahna???

Rua Sesamo - Gualter e a Festa de Anos

Cabidelaaaaa...

Rua Sesamo - Gualter no Supermercado

Coitadinho do Gualter...Snif, snif,... :P

Rua Sésamo: Recordação doce.

Por favor, ensinem-me o caminho da Rua Sésamo e deixem-me lá ficar!

( )

- És o meu génio da lâmpada mágica!
- Ai sim? Nesse caso, concedo-te três desejos.
- Nem pensar! Não quero nenhum; vou ficar bem caladinho, porque assim não desaparecerás! Ficarás, eternamente, á espera dos meus desejos e jamais me deixarás...
- Esperto!
- Ficas?
- Fico!

Dizemos palavras só nossas, ninguém as entende. No nosso refúgiuo não se fazem castelos da areia, nem de cartas sumíticas, edificam-se catedrais sólidas e rochosas, que nos mantêm num mesmo coração!
E assim entrelaçámos um par de mãos, um par de lábios; e assim, eu brinco às escondidas nos teus beijos, por entre o teu corpo e tu pelo meu.
Assim, sim!

Mistério (Florbela Espanca)


Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,

Dizendo coisas que ninguém entende!

Da tua cantilena se desprende

Um sonho de magia e de pecados.


Dos teus pálidos dedos delicados

Uma alada canção palpita e ascende,

Frases que a nossa boca não aprende,

Murmúrios por caminhos desolados.


Pelo meu rosto branco, sempre frio,

Fazes passar o lúbregue arrepio

Das sensações estranhas, dolorosas...


Talvez um dia entenda o teu mistério...

Quando, inerte, na paz do cemitério,

O meu corpo matar a fome às rosas!

sexta-feira, agosto 10, 2007

Não chove, não troveja nem relampeja em mim. Não há nada que me volte a fazer sentir...



Deixai-me estar só, num recanto escondido, algures lá onde moram os cometas;

Deixai-me rodeada de uma aparência efémera, que vem, que passa,que não me gosta, que não me entende, que não me sabe existir...

Deixai-me de consciência suave, num coma perpetuo; livrai-me dos cinco sentidos!

Levem-me o coração, tomem-no de bandeja, nu e cru, desfeito, encardido, rude, incapaz...

Deixai-me morrer nas entrenhas da escuridão e da solidão agora também minha querida, porque:


DE TANTO BATER, O MEU CORAÇÃO PAROU!

quinta-feira, agosto 09, 2007

Magnólias e Violinos





“Ele”, cujo o nome deixou desvanecer na memória, só pela preguiça de ser alguém, acordava todas as manhãs com o nascer do sol, só porque se esquecia de fechar as percianas e, por isso, era incomodado pelos raios de luz que incidiam sobre a sua testa de marfim. Calçava uns chinelos rotos pelos anos e rastejava para a casa de banho, imunda, porque também “ele” não gostava do termo “limpezas”, achava-o desajustado e inutil, fosse como fosse, mais cedo ou mais tarde, a casa de banho voltaria de novo a servir de maternidade a bactérias; e não importava se pela casa abundassem ratazanas de todas as espécies e tamanhos, ou baratas, felizmente não tinha vizinhos que o incomodassem com ninharias como essas e podia viver em paz e sossego, porque também “infecções” eram coisas que só aconteciam a essa gente ingénua que não aceita o facto que um dia terá de partir.
Não saía de casa, a sorte tinha-o brindado em ser o único sobrinho vivo de um tio que não tinha mais familia e que, assim, lhe havia deixado a furtuna imensa. A única ocasião que o fazia era para esvaziar a caixa de correio.
Gostava de cartas, na verdade, era o seu único prazer: adorava rasgar os envelopes, sentir o cheiro do papel e da cola que cerrava um presente perpetuado no tempo, adorava prever que palavras de lá sairiam, como sairiam e porque letra sairiam… “Ele” não só as amava, coleccionáva-as!
Certa vez, quando se apraltava para o seu ritual, reparou que por entre o molho de cartas usuais de bancos, água, luz e publicidade, se destacava uma letra miudinha e azul. Não tinha remetente e o destinatário não seguia o protocolo estipulado, antes disso podia se ler: “Para alguém…”.
Estranhou aquele envelope, tinha uma estranha forma e emanava um aroma de ortelã. Talvez fosse um desses mafarricos que nada mais tem para fazer que moer a vida, já gasta, dos outros, com partidas de roubar a paciência. No entanto, havia algo, naquela estranha letra, de encantador, de misterioso; estranhamente, sentiu o seu coração crepitar, só poderia estra a morrer, pensou, porque “Ele” não aprendera o vocábulo “emoção”.
Abriu a carta. Aquela letra miudinha e azulada transformara-se numa letra bicuda e vermelha e o aroma aducicado de ortelã num cheiro nausebundo a sangue; e, todavia, “Ele” não se assustou, fora embebido naquele feitiço duro e cruel, porque aquele alguém não havia escrito qualquer carta, havia escrito com a própria vida, toda e cada letra.
“ Não pertendia este fim. O prelúdio que se faz soar esta noite é toda uma mágoa à própria existência humana. É um descontentamento desmedido de uma racionalidade ilusória e impune faça à nossa brutalidade grotesca animal. Foi o que me aconteceu!
Outrora sabia crescer neste refugio natural, onde o céu ainda se enche de estrelas e a manhã se cobre de um manto verde e florido com magnólias. Sempre amei as magnólias e as estrelas e tudo teria sido perfeito se somente a elas me entregasse…ousei muito mais, desejei a musica, desejei o som daquele violino, desejei o amor de quem o tocava.
Tinha um esbelto encanto e uma soberba presença, poder-se-ia dizer que fora a melhor obra da Natureza!... Ensinava no conservatório, mas todos os fins de semana regressava à sua terra e em todas essas visitas trazia consigo o rechei de novas melodias.
Todos se orgulhavam dele, porque era o mais inteligente que havia, porque sabia tudo acerca de tudo e porque tocava aquele violino; era como se em cada música, aquele pedaço, de madeira e corda, a cada compasso, se metamorfizasse em forma humana. Então, com a devida licença, moldava em si o mais profundo gesto nosso, fezendo-nos Dós e Sis, Rés e Mis; uma odisseia pela alma huamana apaixonada.
Mas, se todos gostavam de escutar as notas do seu violino, eu gostava de venerar aquela alma, absorvia-me naquela existência e enaltecia aquela figura. Sem que soubesse, olhava-o tão profundamente e guardava-o dentro de mim, só para mim…
Passei a segui-lo secretamente, fazia de tudo para lhe fazer notar a minha presença; o que eu mais queria fosse que me tocasse na lívida pele, assim como as cordas daquele violino; eu seria, então a sua sinfonia…
Mas, com efeito, na sua pauta musical só tinha a força para ser a pausa, nunca a nota…
Amar apaixonadamente é um atentado à superioridade Humana! Instantaneamente, ela torna-se maestro e toda a conduta é dirigida em agudos dolorosos…a embuscada começa. A minha então não tardou: estava sucumbida a uma raiva pulsante que chorava um amor sem dono. Naquela noite, compus a sonata mais fabulosa de todas. Na manhã seguinte, procurei-o, levei-o até à floresta. Lá mostrei-lhe a minha obra e pedi que a tocasse. Assim o fez.
Toda a duranção de notas foi respeitada, desde as semi-colcheias às seminimas, a acentuação perfeita, as pausas exactas, e contudo não a soubera tocar! Seria preciso tão mais que um violino para o poder fazer…seria preciso um “amo-te”…e, isso, simplesmente não me poderia dar.
Fechei o compasso, terminei a sinfonia dolorosa com um punhal. Matei-o. Matei-me.
Escrevo agora, pelas ultimas gotas de sangue que me restam, que não há mais ridiculo nem mais poderoso que Amar…
Um beijo de quem parte…
Calam-se os violinos!”
“Ele” chamava-se Amadeu, lembrava-se agora, e nem sempre vivera assim. Fechara-se naquele casarão aquando da morte da sua mulher. Também ela gostara de magnólias e de olhar o céu. No fundo do sótão, ainda guardava todos os seus quadros. Nunca mais ousara tocar violino…ainda se recorda da manhã cinzenta, em que trifante, ela lhe oferecera aquele “stradivarios”. E sem saber escrevia agora estas letras inventadas, de uma história trágica, chamando por ela, saudando o final da sua estadia num mundo que não sabe amar. E porque ninguém já lá vai, quando o encontrarem, Amadeu já será o pó das estrelas, pintado no céu.

SILÊNCIOS PRÓPRIOS


O SILÊNCIO É FEITO DE TODAS AS FORMAS. NA LOJA DOS SILÊNCIOS, HÁ UM SENHOR QUE OS MOLDA; ENTRAMOS E PERGUNTA: "ENTÃO E COMO QUER ESSE SILÊNCIO?". CADA UM TEM UM PEDIDO PRÓPRIO, MAS ISSO NÃO LHE IMPORTA, PORQUE TEM-NOS E SABE-OS TODOS NA PONTA DOS DEDOS. HÁ AZUIS, AMARELOS, ARCO-ÍRIS, HÁ EM DÓS E MIS ( E TANTAS OUTRAS NOTAS), HÁ OS IMPONENTES, OS TERNOS, OS ARREPIANTES, OS MEDROSOS, OS LEVES, OS GRANDES, OS PEQUENOS, HÁ ATÉ UNS QUE DURAM UM INSTANTE E AQUELES QUE DURAM TODA A VIDA...
HÁ SILÊNCIOS TÃO BONITOS...SE QUISER, POSSO ME RECORDAR DE UM: MELÓDICO NO CORAÇÃO, DOCE DE GOSTO E DE TACTO, QUENTE DE AMOR!
UM DIA DESTES, TOCARAM À CAMPAINHA. ABRI A PORTA. REPAREI QUE LÁ TINHAM DEIXADO UMA ENCOMENDA. VI O MEU NOME. ABRI. MANDARAM-ME UM SILÊNCIO! UM SILÊNCIO GRANDE DE MAIS PARA SUPORTAR... PRETO, GELADO, ASFIXIANTE, SOBERBAMENTE AMARGORADO. DEVERIA SER PROÍBIDO FABRICAR SILÊNCIOS ASSIM!

sexta-feira, agosto 03, 2007

Paris, je t'aime - Tour Eiffel (Sylvain Chomet)

Paris, Je T'aime - Faubourg Saint-Denis

Paris Je T'Aime

É este amar que nos torna maiores que tudo!

CORES QUE SE PINTAVAM








LEMBRASTE? ERAS AS CORES TODAS DO ARCO-ÍRIS E EU ERA AZUL ESCURO.

SÍNDROME DE STENDHAL






FRANCAMENTE, QUE QUERES FAZER DE MIM?




FAZERES-ME CONTRAIR A SÍNDROME DE STENDHAL, JÁ É DE MAIS!




(DESCOBRI FLORENÇA INTEIRA EM TI.)




NÃO IMPORTA O QUE PARA AÍ SE MOVE; ESTOU CIENTE DA TUA ESPÉCIE SOLITÁRIA, SEJA COMO FOR, "VOU TE SENTIR A FALTA".


ATÉ BREVE!
(PS: ADMIRO A TUA CLARIVIDÊNCIA.)


Baile dos Morcegos



É um bailado sonoro e vigoroso que os envolve, pentrado-lhes o coração, acelerado, as finas asas. Um "flamengo" animal de cor negra, um desejo que pulsa da alma: a vida, meus caros!

Mamíferos nossos; revolvendo o tempo também nós fomos morcegos, também eles Homens, assim dita a biologia evolutiva (o mesmo ancestral comum).

E vêm de noite, numa penumbra sonolenta, e dançam...tanto que dançam! À quem diga, que se estivermos suficientemente atentos que os conseguiremos ouvir cantar! É o canto da morte, meu amor...

Meia-noite: persinto-os lá fora (confeço: esperava-os, não só hoje, mas por tantas ocasiões), corro pelas ruas, as mesmas que calam o chinfrim dos Homens, à noite proclama-se "NATUREZA!", sei como estão perto - sinto o peito fulminar!

Avisto-os e que belos! Morcegos, morceguitos, em uníssono, em "solo", um todo, um só, individualidades que transgridem as próprias características anómalas da recombinação genética, das mutações, da fecundação...não, é muito mais! São artistas que amam uma consciência inconsciente que desflora na inocência da dança; uma paixão, é isso, uma paixão... Vi como se superavam incessantemente, como actuavam Shakespeare, ou tocavam Chopin, Mendelssohn, Bach...Vi como nos desenhavam naquele céu estrelado, a mim e a ti; porque também nós nos superámos.

Reza a lenda que o "flamengo dos morcegos" é como o "solitário": um jogo imprevisível e enigmático, o jogo da morte!


"MANIFESTO"

4 DE PAUS
Pergunta-se: que probabilidade há de que algo possa surgir do nada? Ou ao contrário, claro: É possível que algo tenha existido sempre? Ou em todo o caso: é possível calcular a probabilidade de a matéria cósmica de repente ter esfregado, sonolenta, despertando para a consciência de si mesma?
1 DE PAUS
Existe um mundo. Em termos de probabilidade, é algo que raia os limites do impossível. Teria sido muito mais fidedigno se casualmente não tivesse havido nada. Nesse caso, ninguém se teria posto a perguntar porque não havia nada.
9 DE PAUS
O Beste é um anjo em apuros. Devido a um fatal mal-entendido, vestiu-se de carne e osso. Só quisera partilhar as condições dos primatas durante uns segundos cósmicos e teve a desdita de puxar a escada celestial e baixá-la consigo. Se a ninguém a recolhe, o relógio biológico irá cada vez mais depressa, e será demasiado tarde para regressar.
13 DE COPAS
Ao morrer, assim como a cena está fixada no rolo da película, e os cenários ruíram e arderam, somos fantasmas na lembrança que os nossos descendentes têm de nós. Então, somos fantasmas, querido, somos mito. Mas ainda estamos juntos, ainda somos um passado comum, um passado remoto eis o que somos. Sob um relógio de passado mítico escuto a tua voz.

Jostein Gaarder

quinta-feira, agosto 02, 2007

Simpsonizei-me!

terça-feira, julho 31, 2007

Eternidade

Já te falei em recordações, de como são pequenos cristais que se organizam numa malha de eterna saudade, ou então, de um pesar tão grande que se meteorizam e desvanessem; disse-te também que se tornam num leito acizentado moldado em toda e nunhuma forma, numa contelação difusa à qual pertencem um tanto de significados e "insignificados". Abarcamos um universo inteiro em nós, distâncias incomensuráveis, como anos-luz e unidades astronómicas, sabemos explicar como se deu a explosão do ovo cósmio e, no entanto, se te perguntar tão simplesmente quem sou eu não saberias explicar!

Achas que se emcontrasses a garrafa onde se encerra o liquido da eternidade o beberias de um só trago?

domingo, julho 22, 2007

PARA MIM!

(DE MIM PARA MIM):
You are one of God's mistakes
You crying, tragic waste of skin
I'm well aware of how it aches
And you still won't let me in
Now I'm breaking down your door
To try and save your swollen face
Though I don't like you anymore
You lying, trying waste of space
My, oh my
A song to say goodbye
A song to say goodbye
A song to say -
Before our innocence was lost
You were always one of those
Blessed with lucky sevens
And the voice that made me cry.
My, oh my
You were mother nature's son
Someone to whom I could relate
Your needle and your damage done
Remains a sordid twist of fate
Now I'm trying to wake you up
To pull you from the liquid sky
'Cause if I don't we'll both end up
With just your song to say goodbye
My, oh my
A song to say goodbye
A song to say goodbye
A song to say
Before our innocence was lost
You were always one of those
Blessed with lucky sevens
And the voice that made me cry
It's a song to say goodbye
(PLACEBO)

sexta-feira, julho 20, 2007

DIÁLOGOS D' "A CIDADE DAS FLORES" DE AUGUSTO ABELAIRA




-Porque acabou tudo entre nós, Giovanni?

-O quê? Ainda te recordas de que existiu alguma coisa entre nós?

-Porque havia ter esquecido?

-Tens pena?

-Não, não. Tenho pena no sentido de que, se tivéssemos continuado, estaria hoje casada, e assim não estou.

-O receio de ficar solteira?

-Não é o receio de ficar solteira. É o receio de que a minha vida continue sempre a mesma coisa.

-Crês que mudaria?

-Não sei. Provavelmente não. E nesse caso talvez seja, de facto, o receio de ficar solteira.

-Nunca cheguei a uma conclusão. Gostavas de mim?

-Não antipatizava contigo. E tu?

-Enquanto convivi contigo suponho que gostava. Suponho que não poderia passar sem ti. Lembras-te? Várias vezes terminámos tudo entre nós. Durante dois ou três dias em que tudo estava acabado, eu era terrivelmente infeliz. Infeliz, a sério, percebes? Não sabia como passar o tempo. Mas da última vez, quando foste passar as férias já não sei aonde, precisamente no momento em que nos zangámos, não tive remédio senão preencher o tempo e habituar-me a passar sem ti. E foi então, aí ao décimo dia sem ti...descobri que eras apenas um hábito que poderia ser substituído por outro hábito, e nada mais. Por outro mau hábito. Tinha aprendido a jogar xadrez.

-És cruel.

-Não.

-Curioso, nunca chegaste a ser para mim um hábito; nem bom, nem mau.

-Então?

-Quando me encontrava contigo, quase sempre preferia não me encontrar. Outras vezes gostava de ir, não por ti, mas porque me beijavas, porque me abraçavas...

-Mesmo no princípio, mesmo quando fomos a San Miniato?

-Não. No princípio gostei de ti.

-Tinhamos combinado ir lá, de manhã choveu...Mas tivemos sorte, a tarde pôs-se bonita.

-Passei a manhã a olhar para as nuvens.

-E eu.

-Mas nunca mais.

-Em vez de te encontrares comigo, que preferias tu fazer?

-Já não me lembro. Às vezes, não fazer nada, ficar em casa. Mas essa era também uma das razões por que eu gostava de estar contigo: sair de casa, dar um passeio.

-És cruel.

-Não.

-Ouve, Ana: se não fosse a tal questão...Não me lembro já o que foi, lembras-te?

-Vagamente.

-Se tu não fosses de férias nessa altura?

-Não tetias descoberto que eu era um mau hábito.

-E tu? Terias descoberto que eu não era nem deixava de ser...?

-Eu já sabia...

-És cruel.

-Não.

-Então?

-Deixarias as coisas continuar.

-Tens a certeza?

-Estaríamos hoje casados.

-Seria horrível.

-Porquê?

-Ainda mo perguntas?
......................................................................................................................................................................



-Rosabianca, afinal não tens cabelos verdes!

-Verdes?

-Sim. Eu pensava...Pelo menos não podia pensar que não fossem verdes...E que não tivesses sido salva por mim do fogo!

-Do fogo?

-Sim. Porque te admiras? Do fogo. E nunca foste enfermeira.

-Enfermeira?

-Porque perguntas? Não posso gostar de ti, Rosabianca! Pensei que tinhas os cabelos verdes e que te salvava do fogo...Mas nada disso sucedeu.

-Giovanni! Se queres, pinto de verde os cabelos, subo para um quarto andar e deito-lhe fogo. Salvas-me?

-E fico ferido? Serás a minha enfermeira?

-Sim, se quiseres serei a tua enfermeira.

-Está bem, Rosabianca. Sobe lá para o telhado que eu vou deitar fogo á casa.









..................................................................................................................

-É verdade o que me afirmaste da outra vez?

-Que te disse eu?

-Que seria terrível se tivesses casado comigo porque então não seria fácil encontrares a Rosabianca.

-É verdade.

-E continuas a gostar dela?

-Continuo, Ana.

-E sentes que nunca mais poderás gostar de outra mulher?

-Sinto.

-Deveras?

-Não sei.

-Vas casar com a Rosabianca?

-Não sei, não sei. Amo a Rosabianca, mas às vezes penso que isso não significa que seja incapaz de amar as outras ao mesmo tempo.

-Que esperas da Rosabianca?

-Esta noite voltei a sonhar que salvei do fogo uma menina com cabelos verdes. Nunca te contei?

-Serias capaz de voltar a gostar de mim, Giovanni?

-Não.

-Serás um dia capaz de voltar a gostar da Rosabianca?

-Que queres dizer?

-Que não tenhas ilusões, Giovanni. Dentro de dois meses as tuas hesitações serão ainda maiores. E, de repente, descobrirás que a deixaste de amar. Não saberás como foi, mas será assim. E verás então: o que sempre te interessa não é o amor conquistado, mas o esforço para o conquistares. Ou melhor: amas o momento em que o amor se inicia, é a infância do amor que tu amas, as hesitações do princípio. Porque não te fazes alpinista?

-Não, não é verdade. Amo a Rosabianca, nunca poderia deixar de gostar dela.

quarta-feira, julho 18, 2007

BURACO NEGRO


ESTOU QUASE A DESISTIR DE TE CONTAR COMO SE FEZ O UNIVERSO!
UM BURACO NEGRO, UMA MENSAGEM QUE SE CONSOME, QUE SE PERDE. SERÁ POR ISSO TÃO DIFICIL ENTENDER QUE GOSTO DE TI?
FICARAM SÓ AS TUAS PALAVRAS NUM PEDAÇO DE PAPEL! E ESSE PEDAÇO NÃO TO DEIXO EU LEVARES CONTIGO. ESSE FICA, LONGE DE TUDO, SÓ MEU, PARA SEMPRE!


SIM, PARA SEMPRE!

segunda-feira, julho 16, 2007


E SE ME CONTASSES COMO SE FEZ O UNIVERSO?


CONTAVAS SÓ A MIM?


PODIA SER O NOSSO SEGREDO...

RASGOU-SE. RASGÁMO-NOS. RASGASTE-TE. RASGUEI-ME!

domingo, julho 15, 2007

Aqui e Ali. No meu silêncio.


Vamos correr até à espuma dourada do tempo eterno, vem cá e beija-me! Vamos dissimular um EU em troca de segundos disparatados, que falam sem nexo, que se entendem numa paixão encarnada e viva! Vamos sabotar o sol e brilharemos mais, tão mais! Vamos contar as estrelas do céu e eu baixinho abraçar-te-ei...Um Universo que é nosso, um sonho só meu....
Sou-te como o mar...ao de leve deixo escorregar marcas do meu nome, que se desfragmentam e se apagam em ti: esboços de pegadas, sem memória!


Aqui e ali, no meu silêncio!




sexta-feira, julho 13, 2007


quinta-feira, julho 12, 2007

Lar doce lar

Tenho dois autocarros que me levam da estação para casa: o 188 e o 189. Antes de mais convém "pintar" este pequeno relato de cores, cheiros e formas que lhe são característicos, pois bem: ao sair da estação da Parede existe um pequenino largo onde ficam as paragens de autocarro e é também para lá que me dirijo todos os dias. Existem quatro paragens a que chegam vários autocarros; são paragens vulgares, com aqueles bancos característicos (sempre lotados), todos as três à sombra, já que são cobertas por grandes arvóres, que assim as protegem do sol. No entanto, a quarta paragem, onde pára o meu autocarro, não só fica deslocada das restantes, como também é a mais pobre de todas! Não é nada mais, nada menos, que um "mini passeio" que aflora no meio do largo alcatroado, sem banco, sem sombra, que ostenta uma placa de metal com um número inscrito: 188.
Faz sol lá fora, saí de casa bem cedo para tratar de burocracias enfadonhas (que não me parecem deixar em paz!), são 10:30 quando finalmente chego à estação. É só mais um pouco e estou em casa, o meu corpo não suporta bem o calor, estou esfomeada e cheia de sede, para além do mais preciso de me sentar, afinal de contas a viagem de comboio tinha sido feita toda de pé! Desloco-me para o tal largo e sem surpresas constato que não há um único lugar onde me possa sentar. "Bom, só espero não ter perdido a camioneta!", penso eu, pensamento legítimo, aqui os autocarros só passam de meia em meia hora, pelo menos os únicos que me servem. Mas, irremediavelmente o dito cujo já partira, o próximos só às 11:15. Espero. Espero. Espero! Ando para cá e para lá, desconsolada, quase estonteada pelo calor, com fome, cheia de fome, com sede, com muita sede. Todos sentados, eu de pé. As vozes daquela gente entram-me desordenadas, atropelando-se umas às outras pelo meu canal auditivo: alguém se queixava dos rins, alguém queria deserdar os filhos e ainda outro alguém desejava saber qual o autocarro a apanhar para o centro de saúde...e eu que só queria chegar a casa!
Por fim, lá surge ela aos solavancos - ah! a visão do paraíso! até que enfim. - todas as almas recolhidas à sombra se precipitam para o "mini passeio" que de um momento para o outro deixa de ter lurgar para mais ninguém. Forma-se a fila mais desorganizada de sempre, não percebo se começa pela direita, se pela esquerda, se pelo meio. Desisto de perceber, deixo-me ficar ao acaso. Mas, o autocarro ainda aqui não está porquê? estava mesmo a entrar no largo, o que é que aconteceu? Então reparo que do meu lado direito, mesmo encostado a esta ilha preechida alguém se lembrou de estacionar o carro, bloqueando a entrada. Como eu, todos protestam, a diferença é que eu interiormente e eles exteriormente. Gera-se uma algazarra pitoresca, as senhoras, todas elas com quadruplo da minha idade, com a mão na anca começam:
- Então mas esta gente não sabe que não se pode estacionar aqui?!
- Havia do autaocarro lhe passar o carro " a ferro" ! De certeza que da próxima nunca mais cá o punha.
- Oh Homem! Tire lá daqui a poracria do carro que eu quero-me ir embora, tenho mais que fazer!
- Haviam era de chamar a polícia!
Passados uns 15 minutos o dono do tão praguejado carro aparece, vinha carregado de sacos do "Pingo doce", mas nem isso o fez escapar da fúria daquelas mulheres, foi se embora o mais depressa que pôde. Resolvido assunto, era de esperar que a camioneta se aproximasse e nós podessemos embarcar, mas ela não se mexe, permanece imóvel ali e ninguem percebe porquê! O motorista anda de um lado para o outro e sem o poder ouvir adivinho-lhe a raiva pelo gesticular dos braços. Alguma coisa tinha acontecido...
Nós todas ali a torrar ao sol, impacientes, desejando quase perfurar as portas daquele vaículo e tomá-lo à força. De novo alguém começa:
- Olha, olha, olha! Agora não se mexe porquê? que falta de respeito, onde é que isto já se viu?! Tá aqui uma pessoa à espera, ao tempo que já deviamos tar lá dentro. Ainda tenho de fazer o almoço! Pior, tenho problemas de circulação não posso tar aqui...
- Agora tá a falar ao telemóvel, tá bonito tá, nem hoje saímos daqui!
- Vão "mazé" chamar uma parteira que o homem está a parir, olha lá a cara dele...
Sem mais nem menos o camionista abandona o autocarro e desaparece.
- Lá vai ele. Parece um foguete!
- Filho da puta!
Sem dúvida que tinhamos chegado ao pior grau de insatisfação daquelas senhoras, que cada vez faziam menos cerimónia quanto aos adjectivos a utilizar.
Estou cheia de fome não aguento mais e dirijo-me ao café mais próximo. Peço uma sandes de queijo, mas para variar põe sempre manteiga na sandes. O meu português não poderia ser mais claro, uma sandes de queijo não é uma sandes de queijo e manteiga! Enfim... quando volto de novo para o largo vejo que o 189 havia acabado de chegar; embora também possa apanhar este autocarro, o facto é que mesmo a paragem mais próxima da minha casa me obriga a percorrer uma distância ainda considerável até lá chegar...contudo, já sem paciência lá vou eu.
O autocarro está apinhado, mesmo para chegar a uma zona onde teria de ficar em pé invariavelmente era um tormento. Aquilo fazia lembrar uma feira, mas uma feira onde se vendiam conversas. Durante aquela viagem as coisas mais inacreditáveis aconteceram: mais que uma vez houve alguém que gritou para se calarem todos, que estava um "barulhão" insuportável, houve alguém que perdeu um saco de nabiças e andava de pessoa em pessoa a perguntar se o tinha visto, eu que estava de pé, e apesar de ser a mais nova dali, desiquelibrava-me constantemente, caíndo não sei quantas vezes no meio do chão.
Quando finalmente cheguei à porta de casa, ansiosa por lá entrar, sentir aquele fresquinho agradavel que só a minha casa consegue ter, ao perpara-me para rodar a maçaneta, percebo que não só não está ninguem em casa como a porta está trancada! Eu não acredito, estava tão próxima...ainda procuro os meus avós pelo quintal. Não, não estão mesmo em casa...
Ligo para o meu avó, ele diz-me para esperar que vem-me abrir a porta; poucos segundos depois aparece, vinha triste, apagado, o irmão tinha acabado de falecer.
O meu tio morreu!



segunda-feira, julho 09, 2007

Conseguiste!


Conseguiste, agora sou meramente um reflexo teu...Parabéns anulaste a minha exsitência em nome da tua.
Hoje, doravante, sempre, serei esta transparência mecânica.
Já sorris. Vamos, continua, não pares até eu ser aquela estrada macadamizada na qual corres até ao fim! O meu fim!


Parabéns!

terça-feira, julho 03, 2007

MAGOASTE-ME!

sábado, junho 30, 2007

Um beijo!



(Finalmente pude compreender a tua dor! Agora sim...)

Não importa quantos te olhem de lado, que te condenem, não é o teu corpo quebrado que te faz indigna, nem tão pouco a morte que carregas nas tuas mãos...Tudo te torna intensamente cativante!
Quantos se atreveriam a doar-se em puro à dor severa de Amar? E que confundam os teus ollhos esgazeados de locura com a incapacidade mental de raciocinar, porque ambos sabemos por quanta pobreza estão assombrados, essa tua magnitude em sentir é uma ode à vida que jamais ninguém soube dar!
E hoje, só hoje, posso ter-te, sei que não vais fugir, porque hoje, por hoje, cedi-te uma alma inteira para que te transfigurares nesse mundo real que não te entende! Sossega, hoje, saberei-te amar...Choraremos os dois!

A ti mulher esquecida!

sexta-feira, junho 15, 2007

Vou escrevendo devagar, devagarinho, em silêncio sonoro, em canto de vocábulos, em metáforas, hiperboles, sinestesias..Vou buscando isto aqui, aquilo ali, vou torcendo tudo em imaginação com laivos de realidade, na esperança que não a interpretes, para que continue na solidão uniforme, num monólogo sem plateia, cujo o destinatário está longe, tão longe...