Nunca se sabe quando o pensamento vem claro até nós. O que o tempo nos ensina, tantas vezes, é que tudo se assemelha a areias movediças de formas diferentemente constantes, os segundos são arranjos de situações inesperadas e nunca calculadas e tudo parece um golpe de probabilidade aleatória, demasiado assustadora para que nos possamos debruçar convenientemente, sem fugir a sete pés. A verdade, claro está, é que por mais que as circunstâncias e suas conjecturas "adornem" o que nos chegua até à palma da mão, em ultmima instância é o nosso livre arbítrio que determina o que nos é dado. Como diz a minha Mariana, é infeliz quem o quer ser, a vida é miserável para quem a quer miserável...nem mais!
Com 18 anos feitos, tenho sempre comigo esta tendência melancólica e uma mordaça que me prende a vista e as mãos: não sei ver quem sou. Aos espelhos que o meu reflexo se mostra, vejo-me sempre digna de tão pouco, como se só a miséria fosse bem vinda...fui aprendendo a gostar da pena que sinto por mim e de sobreviver no desespero. De auto-estima pouco tenho e por me ver sempre este esboço riscado, não serve rigorosamente de nada as palavras de animo alheias, porque por mais verdadeiras que possam ser, simplesmente nunca as enxergo como honestas. Assim, habituei-me a esta identidade de menina frágil, desajeitada, gorda e feia, que sempre chora caso algo fuja do esperado. Aos 18 anos, é ainda aqui que estou, pairando e "Chafurdando em auto-comiseração", por isso, ainda hoje chorei, ainda hoje pedi não existir, desejei definhar e acreditar que da minha ausência ninguém notaria. Aparentemente, não há nada mais que me satisfaça. E sou "parva", como ainda hoje o meu pai mo disse, fiz um grande favor em deixar o Pedro, pois "assim como és Ana, não há quem aguente!"...Talvez. Sei que o diz porque me quer ver como o copo inquebrável e racional que é...Não sei se alguma vez o serei e suponho que a questão nem seja bem essa, mas sim se o quero ser...com isso preocupar-me-ei depois, eventualmente deixarei de ser tão perecível, uma coisa de cada vez certo? Como diz a Cátia, não posso querer subir a escadaria de um só folgo, sem passar por cada um dos degraus. Chegamos à primeira lição humilde do dia: Tenho de aprender a ser paciente, serenamente paciente. Vai custar, mas tem de ser. Vamos lá, um dia de cada vez...
Ainda assim, o que de mais importante me aterrou como óbvio aos pés, enquanto cambaleava por Algés, ainda embebida em lágrimas, foi que a grande responsável pelo fim da relação com a pessoa que mais amei, e eventualmente a única que amarei tanto, fui eu! Não o digo na minha qualidade de atracção pelo sofrimento e mutilação, mas na forma mais objectiva e sem anestesia que o posso fazer. Boicotei o que de melhor tinha na minha vida, pelo simples facto de não me achar suficientemente digna para tal, pelo simples facto de me achar despresível. Sei que grande parte do tempo não o fiz conscientemente, mas sei hoje que o fiz. E por isso, surgiu toda a insegurança que aumentava com as coisas mais banais: como mensagens não respondidas no segundo exacto. Veio, então, por associação, a necessidade de demonstrações exurbitantes de afecto que logicamente nem sempre se podem dar, caso contrário é estar a exigir demais. Não é porque as pessoas não nos amam da forma que queremos, que significa que não nos amem com tudo o que podem. Ora, eu era incapaz de entender isso.
A verdade é mesmo esta: é URGENTE gostarmos de nós mesmos, para podermos ser amados!
Tenho consciencia que aperceber-me de tudo hoje, com 18 anos feitos, não é mau de todo...há quem passe uma vida inteira sem o admitir...a questão foi que pela minha inexistência de amor próprio perdi quem de mais importante tinha na vida: O Pedro. Dói, dói muito, demais para o poder quantificar...crescer dói. Talvez agora seja tarde demais...sei que sempre me vai doer o ter deixado ir, pois que ele é...ele é MUITO. Mas sei que é disso que tenho de fugir: dos pensamentos que me levam à saudade e desespero, às noites mal dormidas...Tenho quem precise de mim, neste momento, e assim como estou não ajudo ninguém. Lá vem de novo a paciência, uma coisa de cada vez..agora é olhar-me e descobrir o que os outros de bom vêem em mim, amar-me, depois acolher quem está gritando por ajuda e eu quero acudir e não tenho tido como..
Depois, se o universo me perdoar, talvez, quem sabe...talvez um dia...
("Le Moulin"- Yann Tiersen- Vídeo retirado do YouTube)