quinta-feira, novembro 27, 2008

Gosto de viver na solidão das coisas, é como se todas fossem minhas...
Sei olhar ao céu azul e sorrir lhe, pelo azul mais que azul, ele reflecte-me um sorrir de arrepio e é assim que sei ser harmonia. O meu céu azul pode ser tanto que me faz chorar: eu digo lhe bom dia e ele acena-me a minha existência.
Sei escotar contos de sons, porque todos os instrumentos contam histórias, é só preciso que alguém os queira escutar. É a minha amizade com o transcendente universo de além...
Sei ver a melancolia da rosa vermelha, a paixão que morre num frasco de água, aconcehgo a sua efemeridade e sinto-me triste porque partem, tanto quanto os amores desta terra.
E tudo isto me maravilha e tudo isto sou eu: o céu azul mais que azul, as histórias nos sons, as rosas vermelhas. Somos o pedaço do mundo que moldamos.
E no entanto, dói-me o ser sozinha, não no viver das coisas, mas no viver dos outros, que me olham e julgam-me transparência e me atravessam como uma porta aberta de passagem.

domingo, outubro 26, 2008

Acha-se sempre que se diz tudo num só verso e que as palavras que proferimos, se escutadas, servem para todo o universo pensado e desejado a transmitir.
E mesmo dizendo tudo fica sempre um tanto escondido, é verdade!
Acreditas que há palavras ditas nas pálpebras dos meus olhos, no ruído mudo do gesto que faço por te ver? São tantas as que nadam no castanho do minha íris que anseia escusadamente por um entendimento inato, como se só me olhando já o soubesses, como se nos teus olhos também visse palavras.
E contudo, ainda se só os meus olhos fossem, ainda se não houvesse todo o meu corpo a segregar o desejo de te ter perto e falar pele a pele, que mais que não fosse num abraço. Mas, são as minhas mãos que chamam as tuas e é o meu coração que corre veloz para dourar o meu rosto do sorriso de te ver tão perto…

sexta-feira, setembro 05, 2008

Nesta musica encanta-me a letra. Se um dia alguem ma puder cantar, sentida, então não há muito mais que pedir.



Para mim no céu foi espelhada a felicidade. Vem-me um contentamento por haver tanto azul e depois entendo que é preciso tão pouco para ser feliz.

segunda-feira, julho 28, 2008


O pedaço de vidro gélido reflecte o nosso quarto.
Alguém o colocou no tecto, como se nos quisesse fazer acreditar que era Deus que espreitava lá de cima, ou então, que lá em cima se perpetua o vazio translúcido, a verdade clara de que o paraíso é este mundo ou até a vida neste quarto...
E no entanto, a vida neste quarto mede-se na respiração ausente dos móveis velhos e nas lembranças que contam calados.
Mesmo quem entra no nosso quarto se transforma num ponto estático e mudo e ninguém sabe se ficando lá tempo de mais não acaba num móvel velho e pesado.

A rigidez do nosso quarto...

Podiamo-lo ter espelhado com o céu, em vez disso quiseste quatro paredes e eu pus lá os móveis velhos.

Quem os tira de lá? Quem abate a cal das paredes?

Primeiro há que tirar de lá esse espelho!

Vejamo-nos plenos e inteiros, diante de nós mesmos, pela íris nossa. Enxergar como quem fala consciente.

Primeiro Eu, depois Tu. Primeiro Tu, depois Eu.

Não são os teus olhos o espelho da minha alma, nem os meus da tua...o provérbio foi invertido. Recompondo-o, somos tudo mais!

E olha parece que já vejo o sol no nosso quarto...

sexta-feira, julho 25, 2008

De mim para ti.


Adeus!


Como se houvesse uma tempestade

escurecendo os teus cabelos,

ou, se preferes, minha boca nos teus olhos

carregada de flor e dos teus dedos;

como se houvesse uma criança cega

aos tropeções dentro de ti,

eu falei em neve - e tu calavas

a voz onde contigo me perdi.

Como se a noite se viesse e te levasse,

eu era só fome o que sentia;

Digo-te adeus, como se não voltasse

ao país onde teu corpo principia.

Como se houvesse nuvens sobre nuvens

e sobre as nuvens mar perfeito,

ou, se preferes, a tua boca clara

singrando largamente no meu peito


De Eugénio de Andrade

De ti para mim.

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,


gastámos as mãos à força de as apertarmos,


gastámos o relógio e as pedras das esquinas


em esperas inúteis.



Meto as mãos nas algibeiras


e não encontro nada.


Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!


Era como se todas as coisas fossem minhas:


quanto mais te dava mais tinha para te dar.



Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!


E eu acreditava!


Acreditava,


porque ao teu lado


todas as coisas eram possíveis.


Mas isso era no tempo dos segredos,


no tempo em que o teu corpo era um aquário,


no tempo em que os teus olhos


eram peixes verdes.


Hoje são apenas os teus olhos.


É pouco, mas é verdade,


uns olhos como todos os outros.



Já gastámos as palavras.


Quando agora digo: meu amor...


já não se passa absolutamente nada.



E, no entanto, antes das palavras gastas,


tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam


só de murmurar o teu nome


no silêncio do meu coração.



Não temos nada que dar.


Dentro de ti


Não há nada que me peça água.


O passado é inútil como um trapo.


E já te disse: as palavras estão gastas.



Adeus.

Poema de Eugénio de Andrade


quinta-feira, julho 24, 2008

10 Things I Hate About You

I hate the way you talk to me,

And the way you cut your hair.

I hate the way you drive my car,

I hate it when you stare.

I hate your big dumb combat boots

And the way you read my mind.

I hate you so much it makes me sick,

It even makes me rhyme.

I hate the way you’re always right,

I hate it when you lie.

I hate it when you make me laugh,

Even worse when you make me cry

I hate it when you’re not around,

And the fact that you didn’t call

But mostly I hate the way I don’t hate you,

Not even close…

Not even a little bit…

Not even at all.

quarta-feira, julho 16, 2008

Estou diante o mar, manto de água cristalina, que, contudo, me afoga os horizontes.
Onde está a ilha prometida? O pedaço de terra que os naufragos sonharam e chamaram paraíso?

Todo este mar azul e o som das ondas oscilantes, mais nada.

Mas, erguendo-me vejo além, distante, todavia vivo, um ponto finito. É Ela: a luz, a descoberta, a virgem nascida, o sonho prometido, a Ilha.
A minha ilha de pensamentos nascidos que, mais que ideias abstractas, são sonhos e desejos queridos.
Vou saltar para o mar, com o tempo haverei de lá chegar..

terça-feira, julho 01, 2008

Desistir? Que se cansem os outros, que procurem novas terras, novos ares, que eu cá me fico. Teimosia? O que for, tudo menos ingenuidade. O vento sopra, o mar é agreste, por onde se alcança porto seguro que não se avista? Na envergadura deste barco, já naufragaram todos os marinheiros.
Só, mas confiante, que em toda a tempestade vem a bonança...
Desistir? Que sejam os outros, eu não!

quarta-feira, junho 25, 2008


Minha pequena do olhar doce:


Deixa que te segure a mão, encosta levemente o teu gesto no meu regaço e cantemos, até o som das nossas palavras melodiosas nos embalarem para tão longe...


Eu levo-te daqui nos meus sonhos e tu escondes-me nos teus...


Somos tanto enquanto dermos as mãos!


Enquanto houver neste mundo a fraterna mão dada, brotam de nós todos os mistérios do mundo: somos Deuses, somos Anjos, o que for, o que há, o que estiver descoberto, o que se mantém em segredo e até o limiar entre os dois estados.


Amar


Gosto de viver.
Sim, na grande maioria dos dias.
Mas, só agora; antes não o sabia
E fingia que não gostava,
Sim, na grande maioria dos dias.


Salvo nos instantes em que te tinha.
Nesses havia o suave cheiro a orvalho
E o calor do verão no rosto,
Mesmo sem orvalho e sem verão,
Com a chuva salpicando o meu corpo.


Agora os dias sabem-me ao cheiro da terra molhada
E é verão.
Gosto destes dias em que invento o
Cheiro a terra molhada.


Sim, gosto de viver na garnde maioria dos dias.


Só não há mais orvalho,
Nem verão no inverno e sol na chuva.


Hoje sei me o luar de mim.
Não tenho noite e, se a tiver, é só porque
É o prenuncio da antemanhã:
Breve, suave e passageira.
Sou tanto quanto a Natureza
E fico feliz,
Naquele jeito de sorriso maturo dos anos que passam.


Só não há mais orvalho,
Nem verão no inverno e sol na chuva.


Então, de que é feito esse que pesa tanto?


(Quero-te)

terça-feira, junho 24, 2008

Rachmaninoff Prelude Op. 23 No. 7 and No.5/ Moment Musical 4

Bem dito Rachmaninoff.

sábado, junho 21, 2008



Enquanto dermos as mãos somos crianças ledas que fazem do mundo uma miragem cinematográfica, cujo final antecipado é uma vitória de um sentido de "não sei quê" que nos faz rir. Se nos doer a barriga foi só porque quisemos comer o algodão doce de sonhos e se te vir escorrer uma lágrima foi porque nessas esmeraldas de olhos, quiseste abarcar o sol num só olhar.

As frustrações? pintamo-las com aguarelas inventadas.

A ingenuidade consciente é o maior dos segredos dos Deuses, só ninguém quer acreditar...

Portanto, o melhor do mundo ainda são as crianças (tanto faz se grandes ou pequenas...).
(Fica bem, bem-me-quer)


Peço-te, não venhas ao meu encontro em sonhos.

Se me visitas o inconsciênte, faz, pelo menos, de conta que te roubaram a omnipresença e finge não me conhecer...não te quero nos meus sonhos!

De cada vez que os assaltas, caminho-te para a divinização - não te quero um Deus ridículo. Recuso-me a fazer-te mais do que és!

Porque se te sonho, vai-me escorregando os outros traços teus, aqueles imperfeitos; quero-os teus.

Amar-te? Só se for por inteiro.

E se te quiser coroar anjo, faço eu mesma as asas, numa manhã cedo em que te acordar com as mãos geladas e me gritares com raiva, só porque não és perfeito!

domingo, junho 15, 2008

Boa sorte. (A minha forma de desejar a todos um bom exame.)



"Penso, logo existo." declarou Descartes, em tom axiomático. De facto, o homem carrega no próprio pulsar do coração uma história evolutiva milenar que o tornou num ser analítico e racional, capaz de arquitectar associações simbólicas complexas, proceder a uma auto-análise e, sobretudo, ter consciência da sua existência. Oferecem-nos a visão clara de que somos seres transitórios e, de imediato, passam-nos para as mãos o testemunho do livre arbítrio, a partir do qual nos é dada total responsabilidade acerca da nossa conduta. Somos confrontados com a jornada atribulada de nos guiarmos e, simultaneamente, inquietados com todas as incongruências morais e éticas dum ser pensante que procura a auto-definição e, numa perspectiva mais abrangente, a felicidade.

De uma forma genérica, sucumbimos a uma de duas opções: ou levamo-nos pela embriaguez da inconsciência, ou tomamos a vida de olhos abertos e consciêntes, que se comprometem a ver atento o mundo, em oposição ao olhar plácido da anterior, mas com a certeza que as frustrações serão isso mesmo, frustrações, incapazes de serem adornadas pela ingenuidade anestésica da inconsciência. E, sendo assim, qual o caminho mais seguro? Qual o menos traiçoeiro, o menos violento? E qual o mais gratificante? Mas, sobretudo, qual o mais feliz?

A dúvida surge e mais violentamente ainda no espírito desfragmentado de Pessoa.

A sua poesia é um exercício claro de intelectualização, joga com simbolismos e tece toda a teoria de um fingimento artístico, que não deixa sombra de dúvida quanto à sua faceta analítica. Tudo nele é dolorosamente pensado e mesmo Caeiro, o heterónimo pelo qual desejou escapar às mordaças do pensamento, admite que "pensar incomoda como andar à chuva", deixando escapar a sua frustração. Fernando Pessoa sente o conhecimento como uma premissa que, instintivamente, vai desembocar na fuga da felicidade pois se, como afirma, o passado não existe, o futuro não nos pertence e o presente é só o elo de ligação dos dois tempos, sentir a felicidade conscientemente é sabe-la fugir por entre os dedos; o tempo não para e com ele passam os momentos fugazes e a felicidade nunca será mais que um instante transitório, pois que sabermo-nos donos dela é, então, vermo-nos passado, vermo-nos fluir e vermo-nos incertos. Assim:


"Leve, breve, suave

um canto de ave

sobe no ar que principía

o dia

escuto, e passou

parece que foi só porque escutei

que parou"


Fernando Pessoa Ortónimo


E não nos iludamos julgando que a solução está, então, em negar o pensamento. A inconsciência da ceifeira que o poeta elogia é o também adverso à felicidade, dado que não pensar é não existir. De uma forma mais simples, o estado de inconsciência liberta-nos da frustração de saber a vida e todos os estados de alma (incluindo, por isso, a felicidade) precários, mas é também deixá-la correr, sem se quer saber disso. Ser feliz sem o saber, é o mesmo que não ser.

A própria questão de Fernado Pessoa declarar a "pobre ceifeira" como a mulher ingénua que por isso é feliz, passa também pelo facto de a felicidade ser incubida a todo e qualquer sujeito que não ele; são sempre os outros, tema recorrente não só no Ortónimo como os heterónimos(todos "estrangeiros" na própria alma).

Nas palavras de Pessoa, a felicidade é um sonho utópico que se concretiza sempre fora de si.

Quanto à escolha de uma das duas posturas, cabe a cada um, não há forma de rotular e diferenciar uma única como certa. Ainda assim, arrisco-me a apostar na consciência, desde que se tenha o ímpeto de agir até ao fim: saber que tudo se constrói e que, afinal de contas, é só preciso não nos levarem a nossa "nuvem fechada".

quinta-feira, junho 12, 2008

Fernando Pessoa, Mensagem, Nevoeiro


Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

quarta-feira, junho 11, 2008

Everwood

It's time for me to heal!




QUERER JÁ TENHO, FALTA NÃO PRECISAR.

QUERER SÓ QUERER.

SIMPLES, BONITO, VERDADEIRO.

quinta-feira, junho 05, 2008

Na Fábrica Do Nada

Na fábrica do Nada, cerras-te o meu coração em dois pedaços tristes, embalaste-os e escondeste-os longe da tua vista. Não se esconde o meu coração do teu, é feio!
Vais fabricar um mais bonito para colar junto a ti? Não me digas que o meu não serve, jamais...
Quando era matéria-prima era tão mais belo, era te tudo! Agora, manufacturado, não presta e já não diz nada, é como tantos que tu nem sabes que existem.
Eu não vejo outros, porque o resto é só escuridão e se há luz é só porque estás por perto...só.

(Eu vou .....-te até ao dia em que levar o óbolo ao barqueiro)


segunda-feira, junho 02, 2008


O que existe entre mim e Ela é este sabor amargo que a torna tão tua e eu tão alheia. Não entendo a graça da ingenuidade programada e os gestos meticulosamente estudados para, aos poucos e sorrateiramente, roubar-te mais que o suposto. Podemos continuar a jogar, eu lançarei os meus piões e os meus cavalos estarão apostos...diria até que se fosses rei, moveria todo um exercito junto para que o grito de guerra suado não fosse "Xeque-mate!". E, ainda assim, julgo que se perdesse todos os meus homens em combate, me despojassem, ficarias impavido e sereno, só porque se fez silêncio ao que de tanto fui...só para que seja dito, não é justo.

Vou amar-te, sim, esse é o meu eterno "Xeque-mate", face ao qual não há estratagemas e almas que me auxilíam.

Sou-te a noite e tu como dia, só poder-te-ía ser alheia e indesejada.

domingo, maio 18, 2008


É a Esperança que, mesmo ingénua, move o mundo e o Homem.

São as nossas mãos entralaçadas que nos tornam reais.

É a tua mão na minha que me faz acreditar,

É não a tirares que me faz sentir,

que mesmo longe, temos as

mãos enlaçadas.

Olha, afinal estes dedos cruzados tinham um nome,

Então este cabo de mim a ti (de ti a mim) foi baptizado...

Gosto de ti, minha amiga.

Yann Tiersen - La Dispute

Há memórias que vagueiam por mim como gatos pardos que a noite esconde. De uma vez por outra, quando caminho na multidão e sem querer abstraio-me até do meu respirar metódico, vejo-as diante de mim. Já foram gatafunhos escarlates e dolorosos, já me fizeram chorar só por me sorrirem...hoje, se é por não saber de mim, já me estendem a mão e eu não choro. Só o travo amargo.

sábado, abril 26, 2008

A humilde lição que Aprendi

Nunca se sabe quando o pensamento vem claro até nós. O que o tempo nos ensina, tantas vezes, é que tudo se assemelha a areias movediças de formas diferentemente constantes, os segundos são arranjos de situações inesperadas e nunca calculadas e tudo parece um golpe de probabilidade aleatória, demasiado assustadora para que nos possamos debruçar convenientemente, sem fugir a sete pés. A verdade, claro está, é que por mais que as circunstâncias e suas conjecturas "adornem" o que nos chegua até à palma da mão, em ultmima instância é o nosso livre arbítrio que determina o que nos é dado. Como diz a minha Mariana, é infeliz quem o quer ser, a vida é miserável para quem a quer miserável...nem mais!
Com 18 anos feitos, tenho sempre comigo esta tendência melancólica e uma mordaça que me prende a vista e as mãos: não sei ver quem sou. Aos espelhos que o meu reflexo se mostra, vejo-me sempre digna de tão pouco, como se só a miséria fosse bem vinda...fui aprendendo a gostar da pena que sinto por mim e de sobreviver no desespero. De auto-estima pouco tenho e por me ver sempre este esboço riscado, não serve rigorosamente de nada as palavras de animo alheias, porque por mais verdadeiras que possam ser, simplesmente nunca as enxergo como honestas. Assim, habituei-me a esta identidade de menina frágil, desajeitada, gorda e feia, que sempre chora caso algo fuja do esperado. Aos 18 anos, é ainda aqui que estou, pairando e "Chafurdando em auto-comiseração", por isso, ainda hoje chorei, ainda hoje pedi não existir, desejei definhar e acreditar que da minha ausência ninguém notaria. Aparentemente, não há nada mais que me satisfaça. E sou "parva", como ainda hoje o meu pai mo disse, fiz um grande favor em deixar o Pedro, pois "assim como és Ana, não há quem aguente!"...Talvez. Sei que o diz porque me quer ver como o copo inquebrável e racional que é...Não sei se alguma vez o serei e suponho que a questão nem seja bem essa, mas sim se o quero ser...com isso preocupar-me-ei depois, eventualmente deixarei de ser tão perecível, uma coisa de cada vez certo? Como diz a Cátia, não posso querer subir a escadaria de um só folgo, sem passar por cada um dos degraus. Chegamos à primeira lição humilde do dia: Tenho de aprender a ser paciente, serenamente paciente. Vai custar, mas tem de ser. Vamos lá, um dia de cada vez...
Ainda assim, o que de mais importante me aterrou como óbvio aos pés, enquanto cambaleava por Algés, ainda embebida em lágrimas, foi que a grande responsável pelo fim da relação com a pessoa que mais amei, e eventualmente a única que amarei tanto, fui eu! Não o digo na minha qualidade de atracção pelo sofrimento e mutilação, mas na forma mais objectiva e sem anestesia que o posso fazer. Boicotei o que de melhor tinha na minha vida, pelo simples facto de não me achar suficientemente digna para tal, pelo simples facto de me achar despresível. Sei que grande parte do tempo não o fiz conscientemente, mas sei hoje que o fiz. E por isso, surgiu toda a insegurança que aumentava com as coisas mais banais: como mensagens não respondidas no segundo exacto. Veio, então, por associação, a necessidade de demonstrações exurbitantes de afecto que logicamente nem sempre se podem dar, caso contrário é estar a exigir demais. Não é porque as pessoas não nos amam da forma que queremos, que significa que não nos amem com tudo o que podem. Ora, eu era incapaz de entender isso.
A verdade é mesmo esta: é URGENTE gostarmos de nós mesmos, para podermos ser amados!
Tenho consciencia que aperceber-me de tudo hoje, com 18 anos feitos, não é mau de todo...há quem passe uma vida inteira sem o admitir...a questão foi que pela minha inexistência de amor próprio perdi quem de mais importante tinha na vida: O Pedro. Dói, dói muito, demais para o poder quantificar...crescer dói. Talvez agora seja tarde demais...sei que sempre me vai doer o ter deixado ir, pois que ele é...ele é MUITO. Mas sei que é disso que tenho de fugir: dos pensamentos que me levam à saudade e desespero, às noites mal dormidas...Tenho quem precise de mim, neste momento, e assim como estou não ajudo ninguém. Lá vem de novo a paciência, uma coisa de cada vez..agora é olhar-me e descobrir o que os outros de bom vêem em mim, amar-me, depois acolher quem está gritando por ajuda e eu quero acudir e não tenho tido como..
Depois, se o universo me perdoar, talvez, quem sabe...talvez um dia...

("Le Moulin"- Yann Tiersen- Vídeo retirado do YouTube)

quinta-feira, abril 17, 2008

Littlest Things

Sometimes i find myself sittin' back and reminscing
Especially when i have to watch other people kissin'
And i remember when you started callin' me your miss's
All the play fightin', all the flirtatious disses
Id tell you sad stories about my childhood
I dont know why i trusted you but i knew that i could
We'd spend the whole weekend lying in our own dirt
I was just so happy in your boxers and your t-shirt

Dreams, Dreams
Of when we had just started things
Dreams of you and me
It seems, It seems
That i cant shake those memories
I wonder if you have the same dreams too.

The littlest things that take me there
I know it sounds lame but its so true
I know its not right, but it seems unfair
That the things are reminding me of you
Sometimes i wish we could just pretend
Even if for only one weekend
So come on, Tell me
Is this the end?

Drinkin' tea in bed
Watching DVD's
When i discovered all your dirty grotty magazines
You take me out shopping and all we'd buy is trainers
As if we ever needed anything to entertain us
the first time that you introduced me to your friends
and you could tell i was nervous, so you held my hand
when i was feeling down, you made that face you do
there's no one in the world that could replace you

Dreams, Dreams
Of when we had just started things
Dreams of me and you
It seems, It seems
That i cant shake those memories
I wonder if you feel the same way too

The littlest things that take me there
I know it sounds lame but its so true
I know its not right, but it seems unfair
That things are reminding me of you
Sometimes i wish we could just pretend
Even if for only one weekend
So come on, Tell me
Is this the end?


Queria recostar a minha cabeça sobre o teu colo e ouvir-te vivendo pelo bater do coração (tão próximo que seria!); queria um beijo nos meus lábios ardentes, como me dizendo que amanhã também vens, então um "também te amo" subentendido seria.

A minha nuvem fechada levaram-na e nem para passarolas erguer serviu... Oh, já ía arranhada, coxa e maneta e se Deus também não tem a mão esquerda, cá na terra não se querem vontades assim.

Eu tinha-a aqui pelo peito, bem guardada e protegida por ti. Um dia, dei um trambolhão, tu foste-te embora e a minha vontade rachou! Os dias e os tempos passaram, ela sempre de gretas novas, ai que frio que me dava! Chegou o dia em que disseste "Não!" e ela foi chorando para nunca mais voltar. Se tenho frio agora? Não. Agora, já não há mais para viver. Foste-te, foi-se a vontade. Mais nada.

quarta-feira, abril 16, 2008


"O homem primeiro tropeça, depois anda, depois corre, um dia voará"






"(...) os homens são anjos nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer, isso mesmo fizemos com o cérebro, se a ele fizemos, a elas faremos (...)"






" O tempo, ás vezes, parece não passar, é como uma andorinha que faz o ninho no beiral, sai e entra, vai e vem, mas sempre à nossa vista, julgaríamos, nós e ela, que iriamos ficar assim a eternidade, ou metade dela, o que já não seria mau. Mas, de repente, estava e já não está, mesmo agora a vi, onde é que se meteu, e se temos à mão um espelho, Jesus, como o tempo passou, como eu me tornei velho, ainda ontem era a flor do bairro, e hoje nem bairro nem flor. Baltasar não tem espelhos, a não ser estes nossos olhos que o estão a ver descer o caminho lamacento para a vila, e eles são que lhe dizem, Tens a barba cheia de brancas, Baltasar, tens a testa carregada de rugas,Baltasar, tens encorreado o pescoço, Baltasar, já te descaem os ombros, Baltasar, nem pareces o mesmo homem, Baltasar, mas isto é certamente defeito dos olhos que usamos, porque aí vem justamente uma mulher, e onde nós víamos um homem velho, vê ela um homem novo, o soldado a quem perguntou um dia, Que nome é o seu, ou nem sequer a esse vê, apenas a este homem que desce, sujo, canoso e maneta, Sete-Sóis de alcunha, se a merece tanta canseira, mas é um constante sol para esta mulher, não por sempre brilhar, mas por existir tanto, escondido de nuvens, tapado de eclipses, mas vivo, Santo Deus, e abre-lhe os braços, quem, abre-os ele a ela, abre-os ela a ele, ambos, são o escândalo da vila de Mafra, agarram-se assim um ao outro na praça pública, e com idade de sobra, talvez seja porque nunca tiveram filhos, talvez porque se vejam mais novos do que são, pobres cegos, ou porventura serão estes os únicos seres humanos que como são se vêem, é esse o modo mais difícil de se ver, agora que eles estão juntos até os nosso olhos foram capazes de perceber que se tornaram belos."


Excertos retirados do Memorial do Convento, de José Saramago.


Viessem Baltasar e Blimunda perguntar se hoje voamos, viessem eles cheios de sonhos e de vontades, viessem com esse amor de corar Mafra inteira e quem diz Mafra, diz todo o Portugal e, quem sabe, se não o mundo todo...Que não viessem Eles! O maior "ai!" das desgraças, dizer-lhes que hoje, antes de voar, há que sonhar; há que lembrar o saber sonhar...

Olha-los-íamos no soslaio olhar de desejo e pensar: "Raios! Soubesse eu ser-lhes igual...soubesse eu amar assim...", enquanto, por despeito, lhes viraríamos as costas, negando-lhes a presença de existência, porque longe da vista, longe do coração, e quanto mais Baltasar e Blimunda forem personagens de um memorial, mais somos livres de viver sem "vontade".






quarta-feira, abril 02, 2008

Sweeney Todd-Johanna II

"Goodbye, Johanna
You're gone, and yet you're mine
I'm fine, Johanna, I'm fine"


"You stay, Johanna
Johanna
The way I dreamed you were
Oh look, Johanna, a star
Buried sweetly in your yellow hair
A shooting star"

"And though I'll think of you I guess, until the day I die,
I think I miss you less and less as every day goes by
Johanna"

"If only angels could prevail we'd be the way we were
Johanna"


quarta-feira, março 26, 2008

Chove. Sentes?

Chove-me um chorar gélido de lágrimas ansiosas e de angústia. Que arrepio é este que sinto? Está frio por me chover e chove-me por andar deambulando só pela metade. Vês estas gotas desfeitas ao tocarem no chão? Olha para mim e para elas. Que diferença pode haver?!

(Vídeo retirado do YouTube)

terça-feira, março 25, 2008

"Lisbon Revisited (1926)"- Álvaro de Campos


Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.


Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infãncia pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...

Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...

Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...

domingo, março 16, 2008

Diários (sós)


20 de Agosto de 2008




Dói saber que se escreve com destinatário definido e, ainda assim, faze-lo com a certeza de que estas palavras serão irremediavelmente de mim para mim...

Passou-se o tempo e o meu corpo apodreceu mais uns anos. Gastou-se o tempo e o teu rosto tomou o lugar desse mesmo que se gastou (o tempo é neste mundo o que nunca se vai...): continuo vendo em mim o teu doce e profundo sorriso, ainda espero ver os teus olhos fechando-se só porque ris!

Deitei fora o teu diário. Depois do enérgico SOS que nele desenhei e sabendo eu que me havia tornado Robinson Crusoe e tu a maré dos naufrágios, havia que terminar o conto com a única forma de dignidade que ainda achava em mim: "Adeus!" . Foi assim e Morremos. Morreu o "uno" de que se fazia o nosso ser humano potente...Disjuntos somos só Eu-Tomás e Tu-Olívia. Resta-nos o frio gelado da metade que se foi e a certeza de que no mundo dos Deuses somos agora um esboço riscado e traçado a vermelho( há um golpe que não sara no coração), tão, mas tão rasgado!Resta-nos? Perdoa-me, Resta-me! E "resta-me" ainda mais por saber que fui eu que te beijei a face em despedida.

Sei de ti. Hoje, ainda sei de ti. Todas as vezes que posso, deixo-me estendido, por detrás do que seja, vendo-te chegar. Assim, apercebo-me que neste mundo ainda, Olívia, estás e de que na minha lembrança não ficou meramente o teu rosto intelectualizado. Quero-o verdadeiro, inteiro..Quero-o perfeito, como todas as rosas que te tenho colhido por todos estes anos (e nunca soubeste delas..). Os laivos de ti, fazem-me saber-te viva e cada vez menos minha, isto porque de certo não há laivos meus porque procures... Chego a amaldiçoar todos os outros que te podem adivinhar mais que viva! Creio então ser o teu Lucifer, anjo corrompido que te vigia os sonhos e te cinge (em desejo) da vida..
Tomás


quinta-feira, março 06, 2008

Extractos: "A Tabacaria" - Álvaro de Campos

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

segunda-feira, fevereiro 18, 2008


Há entre mim e as rosas vermelhas um desalento inteiro: não há nelas nem único gesto meu e em mim brota, ao vê-las, um desejo inteiro de sabê-las minhas e alma (a minha)! Pela vida vejo tantos múltiplos de gente que são roseiras floridas e vermelhas, fico absorta, suspirando: como era bom ser assim!...

São espinhos que me prendem a um inverno perene, magoado e triste. Todos me espreitam a cor e murmuram, passando, sempre: "não é vermelha, é pálida, é assim...".

segunda-feira, fevereiro 04, 2008


Escuta, Menina Crescida, esta música com que te trago no embalo, ouve e sente-a, que outra não te tenho para dar.
Olhai-me, Menina Crescida, o rosto de Mamã Pequena, pálido, conservai-o em ti, que outro não te tenho com que te consolar.
Decorai as histórias do outro mundo com que vos iludo a razão, aprende-me gestos e a sabedoria de só te escutar, sempre.
Presta atenção: os abraços são sempre fortes e os beijos são fugazes e tranquilos, de resto as palavras todas passam, por isso, olhai-me e aprende-me!
Agradece a Deus por haver neste mundo sempre Mamãs Pequenas para Meninas Crescidas, porque mesmo que não as haja, tu tem-la.
Só resta saber, qual de nós soube melhor Ser: se eu Mamã Pequena, se tu Meninda Crescida.
Aqui, junto do meu regaço, murmurar-te-ei: não me escutais, nem aprendeis comigo, amai-me só porque eu a vós também vos amo.


Quem diria que o tempo te levaria para tão longe(de mim)...Sinto-me, em ti, já, como o espaço incorpóreo do vácuo: uma tremenda dor junto do meu regaço desfeito. Olha para as flores que colhi! Eram tantas, tantas, T-A-N-T-A-S...Hoje são tantas de trazer mãos vazias. Onde foi que te mesteste, meu Amor? No que foi que o tempo te tornou, que te alcanço e sinto a distância?

Ora, sei-o bem! Foi em mim que se quebrou todo o encanto e, olhando-me à clara pele nua, viste-me torpe e cansada. Pelas enter linhas do tempo, quem sabe, não seja eu que já não saiba quem sou e não encontre em mim um pouco de quando era assim: trazendo as mãos cheias de flores, colhendo-as de mim para ti.

sábado, janeiro 26, 2008


Já não escrevo.
Limito-me a vaguear o ordinário
E já caminhando, copiando-me, agora
Como outrora, onde há tanto para dizer,
Pronuncio o silêncio do dito e não dito,
Como do por dizer: Nada!
Já não sei escrever!


É como na neblina pairando,
Tempo incerto...
Ficaram-me os sonhos na terra de ninguém,
Soltaram-se todos e tão de repente...
Mas porquê?