segunda-feira, julho 28, 2008


O pedaço de vidro gélido reflecte o nosso quarto.
Alguém o colocou no tecto, como se nos quisesse fazer acreditar que era Deus que espreitava lá de cima, ou então, que lá em cima se perpetua o vazio translúcido, a verdade clara de que o paraíso é este mundo ou até a vida neste quarto...
E no entanto, a vida neste quarto mede-se na respiração ausente dos móveis velhos e nas lembranças que contam calados.
Mesmo quem entra no nosso quarto se transforma num ponto estático e mudo e ninguém sabe se ficando lá tempo de mais não acaba num móvel velho e pesado.

A rigidez do nosso quarto...

Podiamo-lo ter espelhado com o céu, em vez disso quiseste quatro paredes e eu pus lá os móveis velhos.

Quem os tira de lá? Quem abate a cal das paredes?

Primeiro há que tirar de lá esse espelho!

Vejamo-nos plenos e inteiros, diante de nós mesmos, pela íris nossa. Enxergar como quem fala consciente.

Primeiro Eu, depois Tu. Primeiro Tu, depois Eu.

Não são os teus olhos o espelho da minha alma, nem os meus da tua...o provérbio foi invertido. Recompondo-o, somos tudo mais!

E olha parece que já vejo o sol no nosso quarto...

sexta-feira, julho 25, 2008

De mim para ti.


Adeus!


Como se houvesse uma tempestade

escurecendo os teus cabelos,

ou, se preferes, minha boca nos teus olhos

carregada de flor e dos teus dedos;

como se houvesse uma criança cega

aos tropeções dentro de ti,

eu falei em neve - e tu calavas

a voz onde contigo me perdi.

Como se a noite se viesse e te levasse,

eu era só fome o que sentia;

Digo-te adeus, como se não voltasse

ao país onde teu corpo principia.

Como se houvesse nuvens sobre nuvens

e sobre as nuvens mar perfeito,

ou, se preferes, a tua boca clara

singrando largamente no meu peito


De Eugénio de Andrade

De ti para mim.

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,


gastámos as mãos à força de as apertarmos,


gastámos o relógio e as pedras das esquinas


em esperas inúteis.



Meto as mãos nas algibeiras


e não encontro nada.


Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!


Era como se todas as coisas fossem minhas:


quanto mais te dava mais tinha para te dar.



Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!


E eu acreditava!


Acreditava,


porque ao teu lado


todas as coisas eram possíveis.


Mas isso era no tempo dos segredos,


no tempo em que o teu corpo era um aquário,


no tempo em que os teus olhos


eram peixes verdes.


Hoje são apenas os teus olhos.


É pouco, mas é verdade,


uns olhos como todos os outros.



Já gastámos as palavras.


Quando agora digo: meu amor...


já não se passa absolutamente nada.



E, no entanto, antes das palavras gastas,


tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam


só de murmurar o teu nome


no silêncio do meu coração.



Não temos nada que dar.


Dentro de ti


Não há nada que me peça água.


O passado é inútil como um trapo.


E já te disse: as palavras estão gastas.



Adeus.

Poema de Eugénio de Andrade


quinta-feira, julho 24, 2008

10 Things I Hate About You

I hate the way you talk to me,

And the way you cut your hair.

I hate the way you drive my car,

I hate it when you stare.

I hate your big dumb combat boots

And the way you read my mind.

I hate you so much it makes me sick,

It even makes me rhyme.

I hate the way you’re always right,

I hate it when you lie.

I hate it when you make me laugh,

Even worse when you make me cry

I hate it when you’re not around,

And the fact that you didn’t call

But mostly I hate the way I don’t hate you,

Not even close…

Not even a little bit…

Not even at all.

quarta-feira, julho 16, 2008

Estou diante o mar, manto de água cristalina, que, contudo, me afoga os horizontes.
Onde está a ilha prometida? O pedaço de terra que os naufragos sonharam e chamaram paraíso?

Todo este mar azul e o som das ondas oscilantes, mais nada.

Mas, erguendo-me vejo além, distante, todavia vivo, um ponto finito. É Ela: a luz, a descoberta, a virgem nascida, o sonho prometido, a Ilha.
A minha ilha de pensamentos nascidos que, mais que ideias abstractas, são sonhos e desejos queridos.
Vou saltar para o mar, com o tempo haverei de lá chegar..

terça-feira, julho 01, 2008

Desistir? Que se cansem os outros, que procurem novas terras, novos ares, que eu cá me fico. Teimosia? O que for, tudo menos ingenuidade. O vento sopra, o mar é agreste, por onde se alcança porto seguro que não se avista? Na envergadura deste barco, já naufragaram todos os marinheiros.
Só, mas confiante, que em toda a tempestade vem a bonança...
Desistir? Que sejam os outros, eu não!