quarta-feira, junho 25, 2008


Minha pequena do olhar doce:


Deixa que te segure a mão, encosta levemente o teu gesto no meu regaço e cantemos, até o som das nossas palavras melodiosas nos embalarem para tão longe...


Eu levo-te daqui nos meus sonhos e tu escondes-me nos teus...


Somos tanto enquanto dermos as mãos!


Enquanto houver neste mundo a fraterna mão dada, brotam de nós todos os mistérios do mundo: somos Deuses, somos Anjos, o que for, o que há, o que estiver descoberto, o que se mantém em segredo e até o limiar entre os dois estados.


Amar


Gosto de viver.
Sim, na grande maioria dos dias.
Mas, só agora; antes não o sabia
E fingia que não gostava,
Sim, na grande maioria dos dias.


Salvo nos instantes em que te tinha.
Nesses havia o suave cheiro a orvalho
E o calor do verão no rosto,
Mesmo sem orvalho e sem verão,
Com a chuva salpicando o meu corpo.


Agora os dias sabem-me ao cheiro da terra molhada
E é verão.
Gosto destes dias em que invento o
Cheiro a terra molhada.


Sim, gosto de viver na garnde maioria dos dias.


Só não há mais orvalho,
Nem verão no inverno e sol na chuva.


Hoje sei me o luar de mim.
Não tenho noite e, se a tiver, é só porque
É o prenuncio da antemanhã:
Breve, suave e passageira.
Sou tanto quanto a Natureza
E fico feliz,
Naquele jeito de sorriso maturo dos anos que passam.


Só não há mais orvalho,
Nem verão no inverno e sol na chuva.


Então, de que é feito esse que pesa tanto?


(Quero-te)

terça-feira, junho 24, 2008

Rachmaninoff Prelude Op. 23 No. 7 and No.5/ Moment Musical 4

Bem dito Rachmaninoff.

sábado, junho 21, 2008



Enquanto dermos as mãos somos crianças ledas que fazem do mundo uma miragem cinematográfica, cujo final antecipado é uma vitória de um sentido de "não sei quê" que nos faz rir. Se nos doer a barriga foi só porque quisemos comer o algodão doce de sonhos e se te vir escorrer uma lágrima foi porque nessas esmeraldas de olhos, quiseste abarcar o sol num só olhar.

As frustrações? pintamo-las com aguarelas inventadas.

A ingenuidade consciente é o maior dos segredos dos Deuses, só ninguém quer acreditar...

Portanto, o melhor do mundo ainda são as crianças (tanto faz se grandes ou pequenas...).
(Fica bem, bem-me-quer)


Peço-te, não venhas ao meu encontro em sonhos.

Se me visitas o inconsciênte, faz, pelo menos, de conta que te roubaram a omnipresença e finge não me conhecer...não te quero nos meus sonhos!

De cada vez que os assaltas, caminho-te para a divinização - não te quero um Deus ridículo. Recuso-me a fazer-te mais do que és!

Porque se te sonho, vai-me escorregando os outros traços teus, aqueles imperfeitos; quero-os teus.

Amar-te? Só se for por inteiro.

E se te quiser coroar anjo, faço eu mesma as asas, numa manhã cedo em que te acordar com as mãos geladas e me gritares com raiva, só porque não és perfeito!

domingo, junho 15, 2008

Boa sorte. (A minha forma de desejar a todos um bom exame.)



"Penso, logo existo." declarou Descartes, em tom axiomático. De facto, o homem carrega no próprio pulsar do coração uma história evolutiva milenar que o tornou num ser analítico e racional, capaz de arquitectar associações simbólicas complexas, proceder a uma auto-análise e, sobretudo, ter consciência da sua existência. Oferecem-nos a visão clara de que somos seres transitórios e, de imediato, passam-nos para as mãos o testemunho do livre arbítrio, a partir do qual nos é dada total responsabilidade acerca da nossa conduta. Somos confrontados com a jornada atribulada de nos guiarmos e, simultaneamente, inquietados com todas as incongruências morais e éticas dum ser pensante que procura a auto-definição e, numa perspectiva mais abrangente, a felicidade.

De uma forma genérica, sucumbimos a uma de duas opções: ou levamo-nos pela embriaguez da inconsciência, ou tomamos a vida de olhos abertos e consciêntes, que se comprometem a ver atento o mundo, em oposição ao olhar plácido da anterior, mas com a certeza que as frustrações serão isso mesmo, frustrações, incapazes de serem adornadas pela ingenuidade anestésica da inconsciência. E, sendo assim, qual o caminho mais seguro? Qual o menos traiçoeiro, o menos violento? E qual o mais gratificante? Mas, sobretudo, qual o mais feliz?

A dúvida surge e mais violentamente ainda no espírito desfragmentado de Pessoa.

A sua poesia é um exercício claro de intelectualização, joga com simbolismos e tece toda a teoria de um fingimento artístico, que não deixa sombra de dúvida quanto à sua faceta analítica. Tudo nele é dolorosamente pensado e mesmo Caeiro, o heterónimo pelo qual desejou escapar às mordaças do pensamento, admite que "pensar incomoda como andar à chuva", deixando escapar a sua frustração. Fernando Pessoa sente o conhecimento como uma premissa que, instintivamente, vai desembocar na fuga da felicidade pois se, como afirma, o passado não existe, o futuro não nos pertence e o presente é só o elo de ligação dos dois tempos, sentir a felicidade conscientemente é sabe-la fugir por entre os dedos; o tempo não para e com ele passam os momentos fugazes e a felicidade nunca será mais que um instante transitório, pois que sabermo-nos donos dela é, então, vermo-nos passado, vermo-nos fluir e vermo-nos incertos. Assim:


"Leve, breve, suave

um canto de ave

sobe no ar que principía

o dia

escuto, e passou

parece que foi só porque escutei

que parou"


Fernando Pessoa Ortónimo


E não nos iludamos julgando que a solução está, então, em negar o pensamento. A inconsciência da ceifeira que o poeta elogia é o também adverso à felicidade, dado que não pensar é não existir. De uma forma mais simples, o estado de inconsciência liberta-nos da frustração de saber a vida e todos os estados de alma (incluindo, por isso, a felicidade) precários, mas é também deixá-la correr, sem se quer saber disso. Ser feliz sem o saber, é o mesmo que não ser.

A própria questão de Fernado Pessoa declarar a "pobre ceifeira" como a mulher ingénua que por isso é feliz, passa também pelo facto de a felicidade ser incubida a todo e qualquer sujeito que não ele; são sempre os outros, tema recorrente não só no Ortónimo como os heterónimos(todos "estrangeiros" na própria alma).

Nas palavras de Pessoa, a felicidade é um sonho utópico que se concretiza sempre fora de si.

Quanto à escolha de uma das duas posturas, cabe a cada um, não há forma de rotular e diferenciar uma única como certa. Ainda assim, arrisco-me a apostar na consciência, desde que se tenha o ímpeto de agir até ao fim: saber que tudo se constrói e que, afinal de contas, é só preciso não nos levarem a nossa "nuvem fechada".

quinta-feira, junho 12, 2008

Fernando Pessoa, Mensagem, Nevoeiro


Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

quarta-feira, junho 11, 2008

Everwood

It's time for me to heal!




QUERER JÁ TENHO, FALTA NÃO PRECISAR.

QUERER SÓ QUERER.

SIMPLES, BONITO, VERDADEIRO.

quinta-feira, junho 05, 2008

Na Fábrica Do Nada

Na fábrica do Nada, cerras-te o meu coração em dois pedaços tristes, embalaste-os e escondeste-os longe da tua vista. Não se esconde o meu coração do teu, é feio!
Vais fabricar um mais bonito para colar junto a ti? Não me digas que o meu não serve, jamais...
Quando era matéria-prima era tão mais belo, era te tudo! Agora, manufacturado, não presta e já não diz nada, é como tantos que tu nem sabes que existem.
Eu não vejo outros, porque o resto é só escuridão e se há luz é só porque estás por perto...só.

(Eu vou .....-te até ao dia em que levar o óbolo ao barqueiro)


segunda-feira, junho 02, 2008


O que existe entre mim e Ela é este sabor amargo que a torna tão tua e eu tão alheia. Não entendo a graça da ingenuidade programada e os gestos meticulosamente estudados para, aos poucos e sorrateiramente, roubar-te mais que o suposto. Podemos continuar a jogar, eu lançarei os meus piões e os meus cavalos estarão apostos...diria até que se fosses rei, moveria todo um exercito junto para que o grito de guerra suado não fosse "Xeque-mate!". E, ainda assim, julgo que se perdesse todos os meus homens em combate, me despojassem, ficarias impavido e sereno, só porque se fez silêncio ao que de tanto fui...só para que seja dito, não é justo.

Vou amar-te, sim, esse é o meu eterno "Xeque-mate", face ao qual não há estratagemas e almas que me auxilíam.

Sou-te a noite e tu como dia, só poder-te-ía ser alheia e indesejada.