sexta-feira, agosto 03, 2007

Baile dos Morcegos



É um bailado sonoro e vigoroso que os envolve, pentrado-lhes o coração, acelerado, as finas asas. Um "flamengo" animal de cor negra, um desejo que pulsa da alma: a vida, meus caros!

Mamíferos nossos; revolvendo o tempo também nós fomos morcegos, também eles Homens, assim dita a biologia evolutiva (o mesmo ancestral comum).

E vêm de noite, numa penumbra sonolenta, e dançam...tanto que dançam! À quem diga, que se estivermos suficientemente atentos que os conseguiremos ouvir cantar! É o canto da morte, meu amor...

Meia-noite: persinto-os lá fora (confeço: esperava-os, não só hoje, mas por tantas ocasiões), corro pelas ruas, as mesmas que calam o chinfrim dos Homens, à noite proclama-se "NATUREZA!", sei como estão perto - sinto o peito fulminar!

Avisto-os e que belos! Morcegos, morceguitos, em uníssono, em "solo", um todo, um só, individualidades que transgridem as próprias características anómalas da recombinação genética, das mutações, da fecundação...não, é muito mais! São artistas que amam uma consciência inconsciente que desflora na inocência da dança; uma paixão, é isso, uma paixão... Vi como se superavam incessantemente, como actuavam Shakespeare, ou tocavam Chopin, Mendelssohn, Bach...Vi como nos desenhavam naquele céu estrelado, a mim e a ti; porque também nós nos superámos.

Reza a lenda que o "flamengo dos morcegos" é como o "solitário": um jogo imprevisível e enigmático, o jogo da morte!