sexta-feira, julho 25, 2008

De mim para ti.


Adeus!


Como se houvesse uma tempestade

escurecendo os teus cabelos,

ou, se preferes, minha boca nos teus olhos

carregada de flor e dos teus dedos;

como se houvesse uma criança cega

aos tropeções dentro de ti,

eu falei em neve - e tu calavas

a voz onde contigo me perdi.

Como se a noite se viesse e te levasse,

eu era só fome o que sentia;

Digo-te adeus, como se não voltasse

ao país onde teu corpo principia.

Como se houvesse nuvens sobre nuvens

e sobre as nuvens mar perfeito,

ou, se preferes, a tua boca clara

singrando largamente no meu peito


De Eugénio de Andrade