O pedaço de vidro gélido reflecte o nosso quarto.
Alguém o colocou no tecto, como se nos quisesse fazer acreditar que era Deus que espreitava lá de cima, ou então, que lá em cima se perpetua o vazio translúcido, a verdade clara de que o paraíso é este mundo ou até a vida neste quarto...
E no entanto, a vida neste quarto mede-se na respiração ausente dos móveis velhos e nas lembranças que contam calados.
Mesmo quem entra no nosso quarto se transforma num ponto estático e mudo e ninguém sabe se ficando lá tempo de mais não acaba num móvel velho e pesado.
A rigidez do nosso quarto...
Podiamo-lo ter espelhado com o céu, em vez disso quiseste quatro paredes e eu pus lá os móveis velhos.
Quem os tira de lá? Quem abate a cal das paredes?
Primeiro há que tirar de lá esse espelho!
Vejamo-nos plenos e inteiros, diante de nós mesmos, pela íris nossa. Enxergar como quem fala consciente.
Primeiro Eu, depois Tu. Primeiro Tu, depois Eu.
Não são os teus olhos o espelho da minha alma, nem os meus da tua...o provérbio foi invertido. Recompondo-o, somos tudo mais!
E olha parece que já vejo o sol no nosso quarto...
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