sábado, outubro 06, 2007


De manhã, de embalo, deambulava pela rua com as horas. Horas que o acompanhavam e o preenchiam aos olhos de quem se tornava conhecido: às sete era um "bom dia, Sr. Joaquim!", a meio da manhã um "Que bom vê-lo, Sr. Joaquim.", à tarde um "Adeus, Sr. Joaquim", à noite um silencioso boa noite de destinatário e remetente análogos. Os lugares tornavam-o distinto e sempre inacabado: na padaria era o "Sr. Joaquim", no café da esquina o "Joaquim, camarada!", no trabalho "Dr. Joaquim"; sem tempo para escolher entre Senhor, Camarada ou Doutor, era à penumbra de todos aqueles que o moldavam que Joaquim se sentia como um esboço cinzento e esborratado... Os traços já gastos de tanto serem apagados, a folha tão amachucada, tão fina e riscada; dali jamais sairia uma obra-prima! E Joaquim olhava para os olhos da gente que passava só para que, enfim, pudesse enxergar, por completo, as obras de quem invejava ser "acabado". Mas, entre "Joaquins de Almeida" , entre "Doutores" e "Senhores" só havia um mundo de mudança e as horas silênciosas que desciam consigo, a rua tão já caminhada, eram o único traço definitivo que pudera encontrar!

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Anónimo disse...

apple, és grande...